Os melhores bispos da Igreja defendem um socialismo com economia mista, com liberdades amplas

Dom Sérgio Méndez Arceo, bispo de Cuernavaca, um grande bispo mexicano, ensinou:

“… nosso mundo subdesenvolvido não tem outro recurso senão o socialismo, isto é, a apropriação social dos meios de produção e a representação autêntica da comunidade” e “nós não viemos, como cristãos, forjar um socialismo cristão. Isso só serviria para absolutizar o socialismo e relativizar o cristianismo” (cf. discurso inaugural do encontro do Movimento “Cristãos pelo Socialismo”, 1972).

A diocese de Cratéus, no Ceará, usava, na década de 70, a “Canção de Maria”, no hinário “Cantando e lutando”, com os versos “derruba os poderosos/ dos seus tronos erguidos/ com o sangue e o suor/ do seu povo oprimido/ arranca os opressores/ os ricos e os malvados”.

Com base nestas idéias, Dom Tchidimbo, bispo de Guiné, defendia um “socialismo africano”, comunitário, e isso já no início da década de 60. Dom Hélder também defendia um “socialismo personalista”, ponto em que o belga Henri de Man concordaria.

Dom Antônio Fragoso (1920-2006) foi bispo em Cratéus-CE. Este grande bispo, como outros da CNBB, defendia uma forma de socialismo humanista e participativo. No prefácio ao livro de Paes de Andrade (um grande democrata católico), “O itinerário da violência” (Rio de Janeiro, Ed. Paz e Terra, 1978), Dom Fragoso ressaltou que “o rosto e a vida do povo revelam o rosto do Deus vivo. Violar os direitos e a dignidade do povo é blasfemar contra Deus”. Dom Fragoso concluiu corretamente que todos devem lutar para termos um “Estado” que assegure “ao povo, sobretudo ao povo oprimido, a participação plena no ter, no saber e no poder”, pois “o povo tem o direito irreversível de ser protagonista de seu projeto político”.

Esta é a mesma linha de bispos como o falecido Dom Hélder, Dom José Vicente Távora (então presidente do MEB, Movimento de Educação de Base, autor da “Cartilha Viver é lutar”, atacada por Carlos Lacerda, já antes do golpe de 1964), os irmãos Lorscheider, Dom Tomás Balduíno, Dom Moacir Grecchi, Dom Pedro Casaldáliga, Dom Luciano Mendes de Almeida, Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Mauro Morelli (em seus textos sobre como deve ser uma República, para abolir a miséria), Dom Enrique Avelar (Santiago), Dom Fernando Aristía (Copiapó), Dom Alberto Luna (Cuenca), Dom Julio Cabrera (Quiché) e outros luminares da Igreja.

Como explicou Alceu, no “Memorando dos 90” (Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira, 1984, p. 85), “um socialismo com liberdade é perfeitamente compatível com a mais rigorosa ortodoxia e a doutrina social das encíclicas, é a minha firme convicção”. É a mesma opinião de católicos como Barbosa Lima Sobrinho, Dom Hélder, Francisco Mangabeira, Fábio Konder Comparato, Plínio de Arruda Sampaio, Frei Betto, Olívio Dutra, Stédile, os militantes da Igreja no MST, Francisco Whitaker, Marcos Arruda, Molon, Gilberto Carvalho, Luiz Alberto Gómez de Souza, Cândido Mendes, Erundina e outros expoentes. O mesmo para Domingos Velasco, Agamenon Magalhães, Sérgio Magalhães e outras estrelas. Generais como Horta Barbosa, Lott e outros pensavam o mesmo. Idem para Alceu Amoroso Lima. 

O socialismo defendido pela Igreja é a Democracia Popular, com Estado social, economia mista, estatais, cooperativas e forte base campesina, de pequena burguesia, artesões, profissionais liberais, autônomos, artistas, servidores etc. Uma boa Frente popular com economia mista.