Pão Nosso, os bens foram feitos por Deus para todos, para dar a todos uma vida digna e plena

Dar os bens aos pobres”, ou seja, dar bens a quem não tem bens (pobres), preceito de santidade, ensinado por Jesus Cristo. Este preceito significa que os bens foram e são destinados a atenderem às necessidades de todos (a “cada um, de acordo com suas necessidades”, cf. Atos dos Apóstolos, onde Marx colheu a frase célebre), ou seja, foram feitos por Deus para assegurar condições de vida plena e digna para todos.

Cristo resumiu os dez mandamentos na frase “amai ao próximo como a si mesmo” (“fazei ao próximo o que gostaria que fosse feito a si mesmo). Trata-se da regra áurea que Kant considerava como a base da democracia. No entanto, a um rapaz que seguia os Dez mandamentos, Cristo ensinou que há algo ainda mais perfeito: “dar os bens aos pobres”, dar dinheiro (bens) a quem necessita, a quem não tem bens, mas que deveria ter bens suficientes e bastantes para uma vida digna, plena e boa.

Distribuir os bens conforme às necessidades de cada pessoa (cf. At 4, 32-34; e 6) é o núcleo mais profundo da ética cristã, da ética natural, racional. Está no núcleo do comunitarismo e do personalismo, cristão, tal como do distributismo, da economia mista, da noção de bem comum, a base mais profunda da ética, segundo São Tomás de Aquino 

O princípio do destino (finalidade) universal dos bens para atender às necessidades fica bem explícito no início da Bíblia, no Genêsis 2, 15, onde fica claro que Deus criou tudo para que suas criaturas inteligentes (feitas à Sua imagem e semelhança) controlassem estes bens, continuando o processo da criação. Santo Ambrósio e São Basílio Magno (330-379) destacaram o princípio da destinação universal dos bens. A “Gaudium et spes” (n. 39, nota 10) cita texto de São Basílio. No Kremlin, em Moscou, há as Catedrais de São Basílio, e não é sem uma boa razão. 

O princípio da destinação universal dos bens está em quase todas as grandes encíclicas, inclusive Rerum, Quadragésimo, as de João XXIII, nos textos de Pio XII, de Paulo VI e sucessores. 

O controle dos bens, pelo trabalho, deve visar o atendimento das necessidades de todos, deve assegurar a todos uma vida plena. Esta é uma parte essencial do Plano de Deus, bem inscrito, por Ele, nas coisas e na consciência humana. Por isso, o critério da legitimidade (meio de discernimento) principal e mais essencial do Estado, das formas sociais, das estruturas e normas da sociedade é o mesmo de nossas condutas é o mesmo: a adequação à razão e ao bem comum.

Todos devem fruir dos bens feitos para todos, com trabalho digno, jornada pequena, boa remuneração, sem reificação. 

O princípio supremo da destinação universal dos bens foi destacado nos textos distributistas de Chesterton e de Alceu, deixando claro que a ética cristã ama a mediania (igualdade), abominando e lutando pela abolição da miséria e nunca viu com bons olhos o acúmulo particular de bens. A riqueza privada foi criticada por Cristo (“ai de vós, ricos”; “é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha; a parábola de Lázaro e o rico; etc). A riqueza privada está ligada à cobiça, duas vezes condenada nos Dez Mandamentos; é sinal claro de avareza, “raiz de todos os males”.

Este preceito e princípio (destinação universal dos bens, os bens foram feitos para todos) é tão atraente que o próprio Marx considerou esta regra principal como a regra suprema da sociedade futura, onde haveria comunhão de bens e de vida.

Marx colheu a regra “a cada um de acordo com suas necessidades” da Bíblia, dos Atos dos Apóstolos (4,21 e 6), da Liga dos Justos, de fundo cristão, ligado a Felix Lamennais, Buchez, Saint-Simon e ao “cristianismo primitivo” de Weitling, inspirado em Santo Tomás Morus e em Morelly. A mesma regra está nos escritos pré-marxistas do socialismo democrático cristão de Luis Blanc, ao qual Marx considerava como aliado, no “Manifesto”.