Onde está o Espírito de Deus, está a libertação, não a opressão

As boas obras (ações em prol do bem comum), salvíficas, são, no fundo, formas de atender às “onímodas necessidades humanas”, especialmente as dos “doentes e pobres” (cf. Vaticano II).

Doentes são pessoas sem saúde e pobres são pessoas sem bens. O correto é dar a todos saúde, bens e conhecimentos. O núcleo mais profundo da ética é atender às necessidades das pessoas (ponto bem explicitado por Cristo, em Mt 25,31-46). 

A frase “a cada um de acordo com suas necessidades” é bíblica, sendo a regra da vida social, como está claro em “Atos dos Apóstolos” (capítulos 2 e 4, a descrição da lei geral que regia as comunidades cristãs. 

Assim, toda ação humana, especialmente do Estado, deve buscar o bem geral, comum a todos. Por isso, um Estado ético, no prisma natural e cristão, é um Estado que atende às necessidades de todos, que assegura a todos uma vida plena.

Como Pio XII ensinou, na encíclica “Mystici Corporis Christi” (n. 106), até mesmo “a maior ou menor abundância” de graças (decorrentes dos “cruéis tormentos e morte doloríssima” de Cristo), “depende não pouco também das nossas boas obras” (de condutas em prol do bem comum), pois quando praticamos a bondade (boas obras) atraímos a ajuda da “bondade divina”, “atraímos sobre os próximos a chuva dos dons celestes” (irrigando as fontes de águas vivas em nós, aperfeiçoando nossa natureza, nossa vida, nossa consciência), ajudas especialmente à inteligência humana.

Afinal, os dons do Espírito Santo operam aperfeiçoando a razão e a natureza humana (a graça não nega, e sim aperfeiçoa a natureza, complementa, melhora, diviniza a natureza humana), sem nunca negar a razão e a natureza, sem nunca admitir o irracionalismo. Ser livre é pautar-e pela própria consciência, por isso, Deus é o Ser mais livre e nos quer livres e racionais.

Os antigos diziam “ubi Spiritus Dei, ibi libertas”, ou seja, a razão, a natureza e a graça nos quer livres e racionais.

A prática do bem é salvífico, é redentor, diviniza, especialmente (preferencialmente, opção prioritária pelos oprimidos) “aliviar os sofrimentos” dos que padecem, não fazer mal ao próprio e controlar racionalmente e socialmente nossas vidas. Estas são as formas para “completar o que falta à paixão de Cristo”, de dar continuidade à tarefa de libertação pessoal e social.