Alguns sacerdotes católicos foram precursores do melhor do socialismo

O abade Mably, o padre Morelly, o padre Raynal, o Círculo Social e o padre Jacques Roux foram precursores de Karl Marx. Isso foi reconhecido pelo próprio Marx. 

Marx e Engels, no livro “A sagrada família”, nomearam claramente os precursores imediatos do comunismo e do socialismo: o Círculo Social (Cercle Social), o padre Jacques Roux e o movimento de Babeuf. Este, graças a Buonarotti, influenciou a Liga dos Justos, a antiga Liga dos Comunistas e, por fim, através destas mediações, influenciaram Marx e Engels.

Vejamos o texto colhido nesta obra de Marx e Engels:

O movimento revolucionário que começou em 1789, com o Cercle social, que a meio caminho teve expoentes principais Leclerc e Roux e foi momentaneamente vencido juntamente com a conspiração de Babeuf, havia suscitado a idéia comunista de Babeuf, que Buonarotti, depois da revolução de 1830, reintroduziu em França. Esta idéia, conseqüentemente elaborada, é a idéia da nova situação do mundo”.

Para Marx, “o movimento revolucionário que começou em 1789” teve como precursor principal o Círculo Social, liderado pelos padre Fauchet e o bispo católico Nicolas de Bonneville. O Círculo (Cercle social, em francês) foi fundado em 1790.

O Círculo Social, liderado pelo sacerdote Fauchet e pelo bispo Nicolas de Bonneville, ensinava corretamente que todas as pessoas têm direito natural aos bens necessários para uma vida digna. Dentre os direitos, enfatizavam o direito à terra. Diziam, ainda, que toda pessoa é credora nata da sociedade e do Estado. Defendiam a “lei agrária” (nos moldes dos projetos dos irmãos Graco, de Moisés, Minos, Esparta etc), praticamente suprimindo a terra como valor de troca (a troca é a alienabilidade dos bens).

Queriam a supressão das propriedades prediais (imobiliárias) de valor superior a 50 mil libras e que fossem fixados limites estritos aos dotes e às herança, ficando boa parte das heranças para o Estado (através de impostos sucessórios altos, que nunca existiram no Brasil). Reivindicavam que os bens da coroa (do Estado) fossem usados pela população, fortalecendo a economia popular e que os camponeses controlassem as propriedades comunais.

Os “expoentes principais” do “movimento revolucionário” foram o padre Jacques Roux e Leclerc. Só até este ponto são dois sacerdotes e um bispo, sem contar Mably e Morelly, dois outros grandes sacerdotes, mas há outros como o padre jesuíta Raynal.

O movimento proletário tinha como concepção teórica “a idéia comunista de Babeuf” e de Buonarotti, tendo este último reintroduzido esta idéia na França, depois da revolução de 1830. Babeuf baseava seu pensamento em dois padres: Morelly e Mably. Com isso, ficam quatro sacerdotes e um bispo.

Lembro que Buonarrotti tinha sólida formação religiosa, era teísta, até o final da vida. Lembro que Babeuf tinha também religiosidade e que deixava claro que as pequenas vendas e as pequenas propriedades não seriam estatizadas, ou seja, defendia economia mista. Vou postar textos de Babeuf mostrando isso. 

Como foi dito em postagens anteriores, o socialismo e o comunismo se desenvolveram com base no desenvolvimento da democracia. Moses Hess estabeleceu claramente a ligação entre democracia e socialismo. Esta ligação foi constatada pelos cartistas, por Buchez, Louis Blanc (daí os “socialistas democráticos” que seguiam os textos de Blanc) e outras fontes. 

Os liberais passaram quase todo o século XIX combatendo os projetos de leis que visavam introduzir o voto secreto, o voto universal (sufrágio eleitoral) e o voto das mulheres. Da mesma forma, os liberais conviveram bem com a escravidão. Prova clara do cinismo dos que defendem o liberalismo econômico, a ideologia do capitalismo.

Marx, com a honestidade intelectual que o caracterizava, deixou claro que esboçava uma síntese de idéias já existentes. A carta que enviou a Weydemeyer, em 05.03.1852, diz:

No que me diz respeito, não me cabe o mérito de ter descoberto nem a existência das classes na sociedade moderna nem a luta que travam entre si. Já muito antes de mim historiógrafos burgueses tinham apresentado a anatomia econômica das mesmas. O que fiz de novo foi, primeiro, demonstrar que a existência das classes está meramente ligada a fases históricas determinadas do desenvolvimento da produção; segundo, que a luta de classes conduz necessariamente à ditadura do proletariado; terceiro, que esta mesma ditadura constitui apenas a transição para a abolição de todas as classes e para uma sociedade sem classes…”.

A maior parte dos “historiógrafos burgueses”, que descreveram a “anatomia econômica” das classes sociais, era formada por cristãos, sendo também fontes cristãs do marxismo. Marx mesmo apontava o católico Thierry como o “Pai da teoria sobre a existência das classes sociais”. 

Hubert Lepargneur, no livro “A Igreja e o reconhecimento dos direitos humanos na história” (editora Cortez & Moraes, São Paulo, 1977, p. 38), demostrou que os precursores do socialismo e da democracia eram inspirados por idéias e sentimentos religiosos:

Ainda em 1790, Pe. Fauchet fundou o “Círculo social” democrático e revolucionário, de espírito social adiantado. Para todos eles, o patriotismo ia de mãos dadas com o ideal de libertação da humanidade inteira. (…)

“Mas, já nestes primórdios, evidenciou-se que o cristianismo e sua in­fluência não se limitavam às posições das autoridades ecle­siásticas; na França como no Brasil não faltaram fervorosas e ativas solidariedades de sacerdotes, religiosos e leigos católicos no movimento emancipador de promoção de no­vos direitos do homem” (homens como o padre Miguelinho, o padre Roma, Tiradentes, o Cônego Batista e outros).

O padre Fauchet foi elogiado por Karl Marx, que também elogiou o Círculo Social e vários sacerdotes (Mably, Morelly, Roux e Bonneville) como os precursores imediatos do socialismo e do comunismo.