Robespierre, outra liderança profundamente cristã

No livro de Antônio Faustino Porto Sobrinho, “Antologia da Eloqüência Universal” (Rio de Janeiro, Editora Gráfica Muniz S/A, 1961, p. 177), há um texto de Robespierre que mostra as razões da proximidade deste autor com o pensamento católico, tal como a proximidade com Rousseau:

“Uma seita propagou com muito zelo a opinião do materialismo, que prevaleceu entre os grandes e mais belos espíritos; deve-se-lhe, em grande parte, aquela espécie de filosofia prática que, reduzindo o egoísmo a sistema, considerou a sociedade humana como uma guerra de astúcia, o êxito como a regra do justo e do injusto, a probidade como um negócio de gosto e de decoro, o mundo como patrimônio dos tratantes hábeis”.

A seita referida por Robespierre era conhecida como “fisiocratas” e nenhum de seus exponentes era materialista, mas tinha um fundo materialista, de reificação da pessoa. O “materialismo”, mencionado por Robespierre, foi chamado pelos Papas de “naturalismo” dos fisiocratas, ou seja, a idéia nefasta de separar a economia da ética, da política e do Estado. Este naturalismo foi efetivamente criticado por vários papas. Trata-se da base ideológica do capitalismo. A crítica de Robespierre era correta: o mal do capitalismo e do liberalismo é justamente “reduzir o egoísmo a sistema”. A mesma crítica ao capitalismo foi feita, mais tarde, por homens como Feuerbach, Moses Hess e Marx.

Maximiliano de Robespierre (1758-1794) tinha verdadeira veneração por Rousseau. Eles rejeitavam o “materialismo” com veemência. Robespierre era conhecido como “o Incorruptível” e deixou textos belíssimos, como o “discurso ao Ente Supremo”, onde propõe um decreto com dois artigos: “o povo francês reconhece a existência do Ente Supremo e a imortalidade da alma” e “reconhece que o culto digno do Ente Supremo é a prática dos deveres do homem”.

Danton também deixou vários textos onde exprime sua fé em Deus. Também criticava a incredulidade, mas não teve uma vida tão ordenada quanto Robespierre, pois foi acusado até de corrupção, de vender sua consciência por dinheiro. No entanto, os textos religiosos de Robespierre e de Danton mereceriam um livro com coletânea, para serem reeditados e lidos nas CEBs.