Alceu e o Visconde de Cairu, economia centrada no bem comum, sob controle do povo organizado

O ideal clássico, bíblico e tomista do bem comum também era o núcleo da lição do “civismo” do Visconde de Cairu, exposto no Senado, em 05.07.1826: “a principal virtude cívica é o constante hábito de fazer cada individuo o sacrifício do seu interesse particular ao interesse público”, da sociedade (e nesta, a prioridade cabe aos interesses dos que mais sofrem, dos mais necessitados). O “interesse da comunidade” é a base e a finalidade de todos os institutos jurídicos e políticos, na visão cristã de Cairu, que redigiu o livro “Estudos do bem comum” (Rio, Ed. IPEA, 1975). Cairu considerava “a boa legislação” e a “boa administração” (as estruturas econômicas do Estado) como as principais bases da “prosperidade” e da “riqueza nacional” de cada país. Cairu escreveu o livro “Estudos sobre o bem comum”, em 1819.

Alceu, num discurso no Teatro Municipal de São Paulo, numa reunião da LEC, em 09.09.1945, lembrou a lição de Cairu, no livro “Estudos de bem comum” (Rio,1919, p. 15): a riqueza real não é “a absorção por alguns dos frutos da produção de todos”, e sim a distribuição. Pois, “o interesse social” proíbe a acumulação enquanto houver miséria.

O elogio de Alceu a Cairu, por exemplo, na conferência publicada na revista “A Ordem” (setembro de 1936), mostra a importância de algumas idéias do velho Cairu, especialmente sobre o papel principal da inteligência no processo produtivo, que exige a democratização de todo o processo produtivo. Uma parte das idéias de Cairu, ligadas a alguns erros de Adam Smith, está superada, mas, em seu tempo, contra o colonialismo, chegavam a ser progressistas.

A parte das idéias de Cairu, relativa à pequena burguesia e ao campesinato, ainda é atual, servindo para desmascarar os males do capitalismo monopolista, que concentra todo o poder nos grandes monopólios privados. O velho Cairu denunciou esta tirania econômica e política e também denunciaria, se estivesse vivo em corpo, hoje, as novas formas de colonialismo econômico, de imperialismo, que escravizam o Brasil. Cairu sabia que o desenvolvimento econômico deve ser social, com base na propriedade familiar (onde o trabalhador controla o processo produtivo), no apoio estatal à pequena economia rural e urbana, na economia mista, em boas estatais e na intervenção do Estado, para orientar tudo em prol do bem comum