Bento XVI, em 16.04.2008, nos EUA, foi bem claro ao resumir as linhas gerais da teoria cristã sobre o poder:
“Desde as origens da República, a busca de liberdade na América sempre foi inspirada pela convicção de que os princípios que governam a vida política e social estão intimamente relacionados com uma ordem moral baseada na realeza de Deus Criador. Os redatores dos documentos constitutivos desta Nação se basearam nesta convicção quando proclamaram a “verdade evidente por si mesma”, que todos os homens são criados iguais e dotados de direitos inalienáveis, fundados na lei natural e no Deus desta natureza. O caminho da história americana evidencia as dificuldades, as lutas e a grande determinação intelectual e moral que foram necessárias para formar uma sociedade que incorporasse fielmente esses nobres princípios. Ao longo deste processo, que forjou a alma desta Nação, as crenças religiosas foram uma inspiração constante e uma força orientadora como, por exemplo, na luta à escravidão e no movimento pelos direitos civis. Ainda em nossos tempos, especialmente nos momentos de crise, os americanos continuam a encontrar energias na adesão a este patrimônio de ideais e aspirações compartilhados”.
Bento XVI frisou que “historicamente, não somente os católicos, mas todos os fiéis encontraram aqui a liberdade de adorar a Deus segundo os princípios de sua consciência, sendo ao mesmo tempo aceitos como integrantes desta confederação, na qual todo indivíduo e todo grupo pode fazer ouvir a sua voz”. Acrescentou que, para “enfrentar gestões políticas e éticas sempre mais complexas, acredito que os americanos poderão encontrar, em suas crenças religiosas, uma fonte preciosa de discernimento e uma inspiração para perseguir um diálogo inteligente, responsável e respeitoso no esforço de edificar uma sociedade mais humana e livre”.
O papa ressaltou a ligação da liberdade com o bem comum, com a responsabilidade pessoal e social, tal como o dever de “se engajar na vida civil”, na vida pública, na vida política:
“A liberdade não é apenas um dom, mas também um apelo à responsabilidade pessoal. Os americanos o sabem, por experiência. Quase todas as cidades deste país possuem monumentos em homenagem àqueles que sacrificaram suas vidas em defesa da liberdade, seja na própria terra, seja em outras. A defesa da liberdade convida a cultivar virtudes, autodisciplina, sacrifício pelo bem comum e um sentido de responsabilidade em relação aos menos favorecidos. Exige também a coragem de se engajar na vida civil, levando as próprias crenças religiosas e valores mais profundos a um debate público sensato. Resumindo, a liberdade é sempre nova. Trata-se de um desafio apresentado a todas as gerações, que deve ser constantemente vencido em prol da causa do bem (cf. Spe Salvi, 24)”.
O papa frisou a ligação da democracia com a verdade: “a democracia só pode florescer, como perceberam os seus pais fundadores, quando os líderes políticos e aqueles a quem representam são guiados pela verdade e quando se utilizam da sabedoria calcada em princípios morais sólidos para tomar decisões concernentes à vida e ao futuro da nação”.
Bento XVI, na “Mensagem ao povo dos EUA”, em 14.04.2008, destacou que “o mundo tem necessidade como nunca de esperança: esperança de paz, de justiça, de liberdade, mas não poderá realizar esta esperança sem obedecer à lei de Deus, que Cristo levou a cumprimento no mandamento de nos amarmos uns aos outros. Fazei aos outros o que quereis que seja feito a vós, não façais o que não quereis que eles vos façam”.
Conclusão: a “regra de ouro” (faça ao próximo o que queremos para nós, que Jesus disse que resumia todas as regras éticas, sendo uma regra síntese) é outra fórmula da regra de agir com base na consciência (na razão, a razão de cada pessoa, logo, do povo), ou seja, exalta o papel normativo da razão. Esta regra, tal como os Dez Mandamentos, implica, no fundo, em usar a luz natural da razão para pautar nossas condutas, pois o que devo fazer em relação a meu próximo é um desdobramento do que quero racionalmente para mim.
A “regra áurea” encontra-se na Bíblia, sendo válida para todos, também para os não crentes. Isto ocorre porque é “uma lei inscrita na consciência humana, e sobre ela todos podemos estar de acordo, de modo que o encontro das diferenças seja positivo e construtivo para toda a comunidade humana” (cf. Bento XVI, no texto citado acima).