Engels, no livro “A guerra camponesa na Alemanha”, critica Lutero, por ter entoado “um verdadeiro hino ao poder constituído”, “jamais” “redigido por nenhum adulador da monarquia”. O herói de Engels é Thomas Munzer e o movimento campesino. Engels escreveu: “os camponeses utilizaram amplamente este instrumento [as idéias de Munzer] contra os príncipes” e as idéias de Munzer eram bem parecidas com as de Morus e de Savonarola, dois grandes católicos. O próprio Engels foi casado com duas moças católicas. Primeiro, casou com uma e depois com a outra, sendo as duas irmãs. O convívio com duas moças católicas irlandesas com certeza levou a Engels várias boas idéias da Igreja.
Vejamos a “doutrina filosófica-religiosa” de Thomaz Munzer, como foi explicada, nos seguintes termos, por Engels:
“[Munzer]… se recusou a considerar a Bíblia como fonte única e infalível da Revelação. A verdadeira e viva revelação era, segundo ele, a razão, quer dizer, uma revelação que se foi dada em todos os tempos e entre todos os povos e que continuava nascendo ainda. Opor a Bíblia à razão significava, a seu juízo, matar o espírito com a letra, pois o Espírito Santo de que fala a Bíblia é nossa razão. A fé não é senão o despertar da razão no homem e, por isso, também os pagãos puderam ter fé. Graças a esta fé, graças à razão já despertada, o homem se assemelha a Deus e alcança a felicidade [“beatituto”]. Portanto, o paraíso não deve ser buscado em outro mundo, senão nesta vida, e a missão dos crentes é estabelecer este paraíso, ou seja, o reino de Deus, aqui na terra”.
Munzer praticamente reprisou a doutrina católica sobre a Bíblia, como foi ensinada pelos Santos Padres, pois ensinou que a religião tem como base a Bíblia, a Tradição (viva, ligada ao povo, à ação da razão) e a própria razão. Munzer e Morus expuseram as linhas gerais da teoria cristã sobre o poder, com base na Bíblia e na Paidéia. Há as mesmas idéias em Frei Domingos de las Casas, em Vives, Francisco de Vitória e outros luminares da Igreja.