A mídia deve ser controlada pelo povo, via BBC e milhões de pequenas mídias populares

Pio XII, no discurso ao Congresso Internacional da Imprensa Católica, em Roma, em 12.03.1950, ensinou boas lições sobre a opinião pública na sociedade e na Igreja:

A opinião pública é o apanágio de toda sociedade composta de seres humanos que, conscientes de sua conduta pessoal e social, estão intimamente engajados na comunidade de que são membros… Sufocar a opinião dos cidadãos, reduzi-la ao silêncio forçado, é, aos olhos de todo cristão, um atentado ao direito natural do ser humano, uma violação da ordem do mundo estabelecida por Deus... Gostaríamos ainda de acrescentar uma palavra sobre a opinião pública no próprio seio da Igreja (naturalmente, nas matérias deixadas à livre discussão). Só podem admirar-se os que não conhecem a Igreja ou a conhecem mal. Porque, afinal, ela é um corpo vivo, e estaria faltando alguma coisa a sua vida se a opinião pública estivesse em falta, falta cuja culpa recairia sobre os pastores e sobre os fiéis”.

Em toda “sociedade composta de seres… conscientes de sua conduta pessoal e social” deve haver uma “opinião pública”, uma opinião da sociedade, como um “corpo vivo”. Esta opinião difusa é um conjunto de idéias práticas, que deve reger a vida pessoal, familiar e social.

A “opinião pública” é, analogicamente, uma consciência social. A sociedade é uma união viva de consciências, unidas pelo diálogo. A “opinião” do povo ou pública é a cultura viva do povo, a razão prática do povo, a consciência viva e regente da sociedade, o coro das vozes da sociedade, o diálogo que permeia o romance da vida.

A consciência da sociedade é o diálogo vivo. É a subjetividade da sociedade, a forma natural da sociedade para autogovernar-se, autodeterminar-se. Esta concepção é atestada pela frase de Cristo “que sejam um, como Eu e o Pai”, que destaca a verdade (dogma) da “comunhão dos santos”. A Bíblia ensina que haverá a unificação da consciência das pessoas, sem perda da personalidade própria, pela via do diálogo, da comunicação, da comunhão.

A Igreja invisível é o Povo de Deus, a união das pessoas boas desta vida e do passado. A Igreja é o Corpo de Deus, o Corpo de Cristo, um Cristo coletivo, pessoas ligadas tendo como que uma alma comum, o Espírito Santo, o Espírito do Logos, do Diálogo. A Igreja Católica é a principal concreção da Igreja viva, é a Igreja visível, parte relevante mas não exclusiva da Igreja invisível.

A subjetividade da sociedade é justamente a capacidade da sociedade de agir como sujeito vivo, com direitos e obrigações, controlando a si mesmo e ao Estado. A sociedade tem, assim, uma consciência social, gerada pelo diálogo. A consciência da sociedade é a fonte direta e o Templo da soberania, da autodeterminação, da autonomia da sociedade.

A imprensa livre, tal como outros meios de mídia, são essenciais para formar a opinião pública. Por isso, é sensato haver um modelo de TV pública como a BBC do Reino Unido, aberta para a participação da sociedade, tal como deve haver, também, milhões e milhões de pequenos meios de comunicações, de rádios comunitárias, mídia sindical, mídia de associações, mídias pequenas pessoais, de comunidades de internet, de pequenos jornais e TVs locais etc.

Os meios de comunicação devem estar nas mãos da sociedade, sob o controle popular. Devem ser meios de expressão e de criação de novas idéias, para ampliar cada vez mais o bem comum.

A destruição dos trustes e cartéis dos impérios de comunicação social é uma das tarefas mais relevantes, para assegurar a liberdade das consciências, a libertação das consciências, da enxurrada de mentiras, erros e baixaria que é veiculada a cada dia. No Brasil, nove famílias controlam quase toda a mídia, formando uma oligarquia mais repelente que a oligarquia que controla os bancos particulares, o que é bem difícil. A estatização dos bancos e a criação de uma grande BBC são pontos prioritários para a libertação do povo. 

Conclusão: como ensinou Thomas Jefferson, a imprensa deve estar nas mãos de todos, para que todos sejam livres e possam debater livremente os problemas sociais, gerando decisões sensatas, adequadas ao bem comum, ao bem geral. Não há soberania popular efetiva sem o controle popular e social sobre a mídia.