A lição democrática popular de Aristóteles foi recebida pela Igreja e eh excelente

Aristóteles: a forma mais segura de obter decisões boas, benéficas a todos, é pela mais ampla consulta, pela participação do povo no poder. A razão é simples, como explicou Aristóteles, no capítulo XIII do livro “Política”:

“Assim como o jantar, como já se disse, aonde todos levam sua contribuição pode ser melhor do que aquele cujas despesas são pagas por um só; no povo, cada um tem sua parte de prudência e de virtude, e quando estão reunidos, o conjunto é mais ou menos como um homem que tivesse vários pés, várias mãos e um número maior de sentidos. A mesma estimativa deve ser feita sobre sua inteligência e seus hábitos morais. Assim, vemos que o público [o povo] julga melhor do que ninguém sobre música ou poesia. Uns criticam um trecho, os demais um outro, e todos captam o forte e o fraco do conjunto da obra”.

Aristóteles concluiu os raciocínios em prol da democracia, no livro “Política”, listando as “máximas democráticas” e a razão que as justifica:

é preciso que todos os cidadãos mandem e obedeçam alternadamente, e isto por várias razões. Primeiro, é essencial para a igualdade que só haja uma mesma condição entre os semelhantes: depois, é difícil que um governo dure muito se for constituído contra este princípio de equidade”. (…)
Esta igualdade na alternância do mando e da obediência é o primeiro atributo da liberdade que os democratas colocam como fundamento e como fim [finalidade] da democracia.

Sua segunda característica é a faculdade de viver como se quer. Este direito também emana da liberdade, e é até mesmo aí que reside toda a sua energia, pois só se é escravo porque não se pode viver conforme se deseja. Donde resulta que um homem não deve se submeter a ninguém, ou que isto só deve acontecer ser houver desforra, conseqüência necessária da liberdade distribuída a todos em igual medida.
Supostos estes princípios, eis as máximas democráticas que deles decorrem:
1º.) que todos têm direito de escolher dentre todos os seus magistrados;
2º.) que todos têm poder sobre cada um, e cada qual deve alternadamente governar os outros;
3º.) que os magistrados [cargos públicos, magistraturas] devem ser sorteados, ou todos sem exceção, ou, pelo menos, aqueles cujos cargo não requer nem luzes, nem experiência;
4º.) que não se deve ter a esse respeito nenhuma consideração para com a fortuna, ou então a menor da quais deve bastar;

5º.) que a mesma magistratura não deve ser conferida mais de uma vez à mesma pessoa, ou pelo menos que isso aconteça raramente e para pouquíssimos cargos, a não ser os militares;
6º.) que todos os cargos devem ser de curta duração, ou, pelo menos, aqueles onde esta breve duração for conveniente;
7º.) que todos devem passar pela judicatura, de qualquer classe que sejam, e ter poder para julgar sobre todos os casos em que qualquer matéria, mesmo as causas da mais alta importância para o Estado, tais como as contas e a censura dos magistrados, a reforma do governo, assim como as convenções particulares;
8º.) que a Assembléia Geral [Ecclesia, o nome escolhido por Cristo para a Igreja] é senhora de tudo, e os magistrados de nada; ou que, pelo menos, a Assembléia seja a única a decidir sobre os grandes interesses e não caibam aos magistrados senão os negócios de pouca importância;
9º.) que os membros do Senado não sejam indistintamente pagos (…);
10º.) que, no entanto, um direito de presença [jetom] seja concedido, se as faculdades do povo assim o permitirem, aos que assistirem à Assembléia do Senado, e que sejam pagos os Tribunais e os magistrados, ou pelo menos os membros principais, tais como os que são obrigados a receber todos os que se apresentarem;
11º.) que, caracterizando-se a oligarquia pela nobreza, pela riqueza e pelo saber de seus membros, a democracia lhe é totalmente oposta (…);
12º.) que não se deve tolerar nenhuma magistratura perpétua. (…).
Eis o espírito de todas as democracias”.

O texto acima termina destacando que o ponto central é “a outorga do poder a todos”, fundamentando o regime democrático na “igualdade” e na “liberdade” (participação etc).

Aristóteles, no livro “Ética a Nicômaco” (X, 2, 1.172, b 36), lembra que a “opinião de todos” (opinião pública, do povo, da sociedade) é uma prova (um sinal), em regra geral, da verdade, dado que todas as razões percebem o que é evidente, o que é racional.

Conclusão: no fundo, “aquilo em que todos consentem, dizemos que assim é, visto que rejeitar semelhante crença significa renunciar ao que é mais digno de fé” (o testemunho de todos). O que é evidente a todos, pelo senso comum, presente em todos, reflete a verdade, as idéias verdadeiras. As idéias verdadeiras estão dispersas em todas as pessoas e só a participação de todas gera o acúmulo de idéias verdadeiras suficiente para uma gestão que proteja e promova o bem comum.