A Igreja aceitou desde o início a teoria do consenso do povo, como fonte do poder legítimo

Nicolau Abbagnano, no livro “Dicionário de filosofia” (São Paulo, Ed. Martins Fontes, 2007, p. 228), traz o texto referido de Aristóteles sobre o consenso como marca (sinal, indício) da verdade, e acrescenta:

Os estóicos, por sua vez, insistiram no valor do consenso universal, donde a importância que tiveram para eles as “noções comuns”, pelo fato de se formarem igualmente em todos os homens, ou naturalmente ou por efeito da educação (Dióg. L., VII, 51). Todavia, só os ecléticos [os estóicos ecléticos] fizeram do consenso comum o critério da verdade; Cícero exprimia o ponto de vista deles quando dizia: “em todos os assuntos, o consenso de todas as gentes deve ser considerado lei natural” (Tusc., I, 13,30). (…) Isso se observa na escola escocesa do senso comum, encabeçada por Tomás Reid (1710-1796)”.
A Igreja sempre foi eclética, sempre acatou pontos de vista de todas as correntes. A Filosofia cristã é uma síntese aberta, de toda filosofia do mundo, aberta a novas criações do povo.

Conclusão: os textos de Aristóteles são uma das principais expressões da teoria jusnaturalista da soberania da sociedade, exposta também por Protágoras, o sofista mais religioso e elogiado por Platão. O próprio Protágoras é apenas um expoente desta corrente jusnaturalista que é a principal teoria da Paidéia. Protágoras apenas repetia as boas idéias já presentes em Hesíodo, em Heráclito, Sófocles e outros autores. Os melhores teólogos gregos (inclusive Demócrito, que era homem com intensa religiosidade) ensinaram que Deus difundiu o logos, a palavra, para que as pessoas pudessem governar a si mesmas pelo diálogo, pela razão discursiva.

Os grandes católicos adotaram estas teses, esta teoria política, que explica como o poder público pode se tornar justo, bom, como Deus quer. Como ensinou o padre Victor Cathrein, no livro “Filosofia del derecho” (Madrid, Ed. Reus, 1941, 4ª. Edição, pp. 205-206), “O cristianismo derramou abundante luz sobre tais verdades, porém elas já são, por si, acessíveis à razão, como o provam os exemplos dos grandes filósofos da antiguidade, Sócrates, Platão, Aristóteles, Cícero e outros”.