A JUC, Lebret e outros apontaram corretamente a democracia popular, socialismo democrático, como o ideal natural e cristão

A JUC seguia a linha de pensadores como Alceu Amoroso Lima, Dom Hélder, o padre Lebret, Karl Jaspers, Gabriel Marcel (1889-1973), Emmanuel Mounier, Jacques Maritain, o padre Teillhard de Chardin, os ideais cristãos da Resistência Francesa e milhares de outras fontes. Mounier, Jaspers (católico meio panteísta e pró-socialista) e Marcel serviram como umas das fontes essenciais de autores como Ricouer e este, por sua vez, é uma das fontes da teologia da libertação.

Para verificar como este movimento internacional estava difundido, basta transcrever um texto elucidativo do padre Lebret, por exemplo, no livro “Manifesto por uma civilização solidária” (São Paulo, Ed. Duas Cidades, 1962, p. 34), onde redigiu um capítulo com “nossa posição face ao socialismo”, com o seguinte texto:

O cristianismo poderia mesmo contribuir para renovar [retomar as raízes religiosas do socialismo pré-marxista, como demonstrei no livro “Socialismo: uma utopia cristã”] um tipo de socialismo aberto [participativo], na medida em que o socialismo abandonasse sua mística materialista [reificadora, melhor dizendo].

A votação de leis sociais foi, em muitos países, obtida pelo apoio de socialistas e de cristãos empenhados no campo social. Socialmente, muitos cristãos estão em posição mais avançada que muitos líderes socialistas ou mesmo que a massa socialista. Desde que o socialismo supere suas posições anti-religiosas e reconheça a importância das responsabilidades pessoais efetivas [da liberdade, da participação], deixará, sem dúvida, de ser considerado pelos cristãos como uma força necessariamente inimiga”.

O ideal histórico (o “projeto histórico” brasileiro, exposto nos Encontros Nacionais de Fé e Política) é que a comunidade se autogoverne, em formas flexíveis de autogestão ampliada, de forma espontânea e livre, onde todos cumpram as regras de convívio de forma espontânea, livremente.

A espontaneidade, a liberdade, só terá condições sociais de generalização quando as normas jurídicas positivas estiverem em harmonia com as idéias práticas do povo (os ditames, as idéias verdadeiras), nascidas da consciência do povo, das razões entrelaçadas, do diálogo, da experiência histórica e dialógica.

Neste sentido, os textos dos melhores anarquistas (especialmente Kropotkin, mas também Proudhon) e socialistas (especialmente os utópicos, quase todos com alguma religiosidade, como pode ser visto na obra de A. Lichtenberger, “O socialismo francês no século XVIII” (1895), que é a obra fundamental para as raízes do socialismo utópico) coincidem com o núcleo da doutrina cristã e este ponto foi constatado até por Nietzsche, como será demonstrado numa das postagens deste meu blog. 

Conclusão: o “ideal histórico” ou “projeto histórico” dos católicos, no Brasil, é uma Democracia Popular, Participativa, Social, um Estado Social, uma forma de socialismo humanista, participativo, democrático, com liberdade, economia mista, distributismo, bens pequenos e médios para todos, erradicação da miséria, erradicação das grandes fortunas privadas etc.