A síntese antiga de cristianismo e democracia, bem mais antiga do que se pensa

A síntese entre cristianismo e democracia existiu, em parte, entre os doutrinários, no movimento ligado a Royer Collard (discípulo de Montesquieu) e Guizot. A democracia, na França e nos demais países, desenvolveu-se na forma de uma síntese de jusnaturalismo católico e religião. Esta síntese está presente inclusive nos melhores textos do “Dicionário” de Pierre Larousse (basta ver nos verbetes religiosos e políticos). Larousse (1817-1875) foi anticlerical, mas foi também profundamente teísta e jusnaturalista, esposando teses de uma democracia popular e social, próxima dos textos de homens como Júlio Verne (católico e progressista) e César Cantu. Larousse também queria um país formado por artesãos, pequenos burgueses, camponeses, artesãos, profissionais liberais, cientistas, cooperativas, estatais, sem latifundiários e sem grandes burgueses (sem o grande capital privado).

O espiritualismo católico e o ecletismo combinam-se como base teórica do romantismo e do tradicionalismo moderado. Esta análise é respaldada pelos textos históricos do padre Leonel Franca, de Sílvio Romero, Miguel Reale e Clóvis Beviláqua. Estas correntes também adotam as teses jusnaturalistas. O próprio classicismo também era jusnaturalista e isso fica evidente em grandes católicos como Francesco Carrara, ou mesmo nas melhores obras de católicos como Alexandres Dumas, Balzac, Ponson, Sue e outros. Como exemplos da vertente espiritualista, basta pensar em Maine de Biran, Frei Francisco de Mont’Alverne, Victor Cousin, Rosmini (elogiado por Guido Gonella e pelo padre Gregório Lipparoni), o padre Vicente Gioberti (1801-1852), Ollé-Laprune e outros. O padre Lipparoni foi um padre italiano que viveu no Brasil, assumindo o cargo de reitor do Seminário de Olinda-PE em 1866; e, depois, de diretor do Ginásio de Pernambuco, nos anos 70 do século XIX. Foi também professor do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Lipparoni escreveu o livro “A filosofia conforme a mente de Santo Tomás de Aquino, exposta por Antônio Rosmini, em harmonia com a ciência e a religião” (Rio, 1880), demonstrando, no texto, a harmonia entre ecletismo, tomismo, Rosmini e democracia.