O padre Ángel Carbonell escreveu o livro “El colectivismo y la ortodoxia católica” (da Librería Subirana, Barcelona, 1927, pp. 57-58), que foi aprovado pelo padre José Maria Llovera e pelo Bispo José, de Barcelona.
O livro do padre Ángel Carbonell mostra a compatibilidade entre as idéias principais do catolicismo e do socialismo (na época, chamado de “colectivismo”). Vejamos um trecho do livro:
“Disse o padre Fallon S.J. (em “Principes d’Économie sociale”, 2ª part., sec. 1ª, cap. III): “o direito primordial dos bens materiais é prover às necessidades de todos e de cada um dos homens. Dissemos primordial, isto é, que tem primazia sobre todos os demais e não permite exceção. De todos e cada um dos homens: cada qual há de poder procurar pelo menos o necessário, desde o momento que a coisa seja materialmente possível; é preciso organizar o regime dos bens tendo em vista às necessidades de todos”. (…)
“(…) Este conceito do fim social da propriedade, a Igreja herdou da antiga Sinagoga. Deus guardava para si a propriedade da terra. Os possuidores desta não eram senão usufrutuários, e ainda sobre este usufruto Deus reservava uma parte; gravava as fazendas com numerosas cargas, a fim de recordar aos proprietários que seus bens lhe haviam sido confiados, não para gozo exclusivista deles, e sim para desempenhar, no meio dos irmãos, a função de provedores – segunda a medida de seus bens – das necessidades de todos: do levita, da viúva, do órfão, do estrangeiro….(cf. “Deuteronômio” V, 15-21; XIV, 22-29; “Levítico” XXV, 23)”.
O padre Angel viu corretamente que a Igreja herdou, do melhor das ideias hebraicas e da Civilização grega-romana (síntese das civilizações anteriores, egípcia, fenícia, suméria, babilônica, persa etc, cf. Hegel), a idéia que o proprietário deve ser um administrador (um usufrutuário, um usuário, um gestor, alguém que controla e usa os bens) sendo este uso vinculado (controlado) pelo bem comum dos antigos hebreus (da “antiga sinagoga”), de Abrahão, do patriarca José do Egito, de Moisés, dos Salmos (especialmente o 24 na numeração católica ou 23 na numeração hebraica), dos Profetas etc.
Moses Hess, que converteu Engels (e talvez Marx) ao comunismo, apontou corretamente que Moisés é o precursor principal do movimento socialista.
A idéia do paraíso (“a vida edênica de nossos primeiros pais”, cf. Bento XV, na encíclica “In Praeclara”, item 3) pressupõe a intenção originária e fundamental de Deus. Aponta um modelo e um ideal para os cristãos.
Para o catolicismo, a história marcha (a Providência divina, pois Deus é o senhor da História, tendo um plano participativo e cooperativo, que visa a libertação das pessoas) para um retorno melhorado da situação inicial, apontada como ideal. Esta idéia faz parte da Bíblia e da concepção histórica dos hebreus, dos cristãos e de Moses Hess e influenciou Marx, quando falava em um “comunismo primitivo”.
O elogio da propriedade comunitária e cooperativa (do comunismo ou propriedade comum, com pequenas propriedades pessoais) é claro, nesta frase, pois Marx queria o comunismo.
Marx combinou estas idéias com a filosofia da história de Hegel (que enfatizava corretamente a autoconsciência, a autodeterminação e a liberdade), por isso falava de uma síntese (negação da negação da tese).
A síntese seria a renovação da tese original num patamar elevado (o comunismo primitivo com os avanços da técnica e da indústria). No fundo desta idéia de Marx, há a idéia hebraica e cristã de um novo paraíso (propriedade comunitária, destinação universal dos bens) renovado e elevado, melhor que o primeiro (como está em Isaías, em Daniel, em Ezequiel, em São Paulo, no “Apocalipse” etc).
O livro do padre Arthur Vermeersch S.J. (1858-1936), “Questiones acerca de la justicia” também traz excelentes textos sobre a destinação universal dos bens.
Na mesma linha, Anton Orel, em “Oeconomia Perennis”, em 1930, “rejeita toda e qualquer forma de remuneração do capital”, cf. consta nos livros de Constantin van Gestel. O mesmo para Othmar Spann e outros autores.