Os textos mais antigos de Engels deixam perfeitamente claras as fontes cristãs e religiosas do melhor do socialismo marxista

A religiosidade de Weitling e de Etienne Cabet, os grandes teóricos pré marxistas da Liga dos Justos (dos Comunistas) e do socialismo marxista, foi reconhecida explicitamente por Frederico Engels, parceiro de Marx, que inclusive antecedeu Marx, pois foi socialista antes de Marx

Engels reconheceu a influência religiosa no surgimento do comunismo, especialmente com base em Buonarotti (daí o babovismo, vindo de Mably e Morelly) e também pelas correntes guiadas intelectualmente por Weitling e Cabet.

Engels, o parceiro de Marx, no artigo “Reforma Social no continente”, de outubro/novembro de 1843, publicado no “The New Moral World”, n 19, reconheceu estas fontes religiosas. Descreveu a vida de Weitling, a prisão do mesmo, o informe de Bluntschli (representando o governo suíço) ao Grande Conselho dos representantes do povo suíço (que gerou o livro “Os comunistas na Suiça, segundo os papéis encontrados em poder de Weitling”, 1843, de Bluntschli) e outros pontos onde fica claro a influência do comunismo cristão sobre as idéias do jovem Engels:

O devoto doutor [Bluntschli] não encontra palavras bastante enérgicas para dar rédeas soltas a seus sentimentos sobre as frívolas blasfêmias com estas gentes infames e incultas tratam de justificar suas nefandas e revolucionárias teorias ao amparo das Sagradas Escrituras. Weitling e seu partido se assemelham muito nisto aos comunistas franceses de Icária e afirmam que o cristianismo é o comunismo”.

O informe de Bluntschli transpira justamente o ódio dos capitalistas diante da exposição das idéias sociais do cristianismo, da justificação das teorias revolucionárias com base nas “Sagradas Escrituras”.

A Liga dos Justos justificava suas “nefandas e revolucionárias teorias” nas “Sagradas Escrituras”, tal como faziam os icarianos, o maior partido comunista pré-marxista, na França.

Da mesma forma agiam os discípulos de Fourier (seguindo nisso o exemplo de Fourier, que escreveu dezenas de páginas apontando a fundamentação de suas idéias na Bíblia), especialmente Victor Considérant.

Considérant é praticamente um expositor socialista, na linha da teologia da libertação e da Doutrina social da Igreja. Seus textos deveriam ser reeditados pelas melhores editoras católicas. 

Os sansimonianos faziam o mesmo, com base no último livro (o mais importante) de Saint-Simon, “O novo cristianismo”, de 1825.

Para provar e demonstrar cabalmente as fontes religiosas pré marxistas do socialismo, basta ler ou folhear os grandes livros e textos de autores como Leroux, Buchez, Enfantin, Bazard e tantos outros.

Engels, no artigo “Reforma social no continente”, em 23.10.1843, diz que o comunismo icariano ligado a Cabet era inspirado no cristianismo e era também o principal movimento comunista na França:

O crescimento do comunismo [pré-marxista] foi saudado pela maioria dos espíritos eminentes da França; Pierre Leroux, o metafísico, Georg Sand, a valente defensora dos direitos da mulher, o abade de Lamennais, autor das “Palavras de um crente” e outros muitos se mostram, mais ou menos, próximos das doutrinas comunistas. (…). Somente resta dizer, por hora, que o número dos comunistas franceses de Icária se calcula, mais ou menos, em meio milhão, sem contar as mulheres e os meninos. É uma falange muito considerável. Publicam uma revista mensal sob o título de Populaire, dirigida pelo pai Cabet; ademais, P. Leroux publica uma revista, a Revue Indepéndante, onde defende filosoficamente os princípios do comunismo. Manchester, 23 de outubro de 1843”.

Pelo texto de Engels, fica comprovado que o comunismo (socialismo, no fundo) pré-marxista tinha raízes cristãs, especialmente com base nos textos religiosos de Cabet, Weitling, Leroux, Considérant, Georg Sand, Lamennais e vários outros autores com textos (e prática) inspirados em fontes religiosas.