Alguns pontos sobre a questão rural e o movimento camponês, no Brasil

Os documentos do MST (especialmente o documento “Capitalismo e classes sociais no campo”, de 1995) auxiliam na análise social da REGIÃO OU ÁREA RURAL DO BRASIL.

Dividem as classes sociais no campo em LATIFUNDIÁRIOS OU burguesia agrária. Há uns 50.000 LATIFUNDIÁRIOS, com áreas superiores a 1.000 hectares e controlando mais de 50% das terras cadastradas. Estes 50 mil latifundiários, são chamados, especificamente, de latifundiários mesmos, pelo MST.

No topo da cadeia alimentar, na área rural, há então então estes 50 mil latifúndios, SENDO A MAIOR PARTE composta de latifúndios improdutivos. Estes 50 mil latifundiários são os piores.

Para ampliar a análise, aprofundando-a, destaque-se que há os piores dos piores, que é um grupinho de uns mil mega latifundiários.

Uns mil mega latifundiários são como o bloco ou fortaleza da concentração agrária no Brasil, do atraso, da morte, da exploração. São quase todos estocadores de terra, mega empresários, quase todos exportadores, oligarcas, oligopólios, como trustes e cartéis, controlando o fluxo dos negócios agrícolas, dos preços agrícolas, do grosso do crédito agrícola, da pauta agrícola. A Bancada ruralista defende acima de todos estes mil mega latifundiários. 

A prioridade é centrar fogo e tomar cuidado com estes mil mega latifundiários.

No entanto, lembro que, no topo há os dez top mais, uns paquidermes com milhões de hectares, como se fossem donos de pequenos países europeus. Estes são os piores dos piores dos piores, os mais abomináveis.

Algumas dezenas de mega latifundiários estão no cimo da pirâmide agrária, como se estivessem em torres cujas pontas ficam acima das nuvens, em altitude. Em boa parte são mega empresários, exportadores. 

Lembro que cerca de 40% ou mais da população do Brasil vive na ÁREA RURAL. O Brasil é composto quase todo de ÁREAS RURAIS, pois somos um DESERTO HABITACIONAL.

O Brasil tem densidade demográfica pífia, de 26 pessoas por km quadrados, quando, na Europa, há países como a Holanda que tem densidade de 400 pessoas por km quadrados. E maior densidade demográfica é sinônimo de bom IDH, o que refuta as teses malucas dos malthusianos neoliberais. 

Mesmo a China tem apenas 90 pessoas por km quadrados, um deserto habitacional também, mas bem mais denso que o Brasil, que é praticamente desabitado. Quase todo o território do Brasil é RURAL, AGRESTE, NÃO HABITADO.

Lembro que as 60 milhões ou mais de pessoas que vivem na ÁREA RURAL não fazem parte da PEA (População economicamente ativa) RURAL, que trabalha na agricultura.

Somente parte MENOR dos que vivem na ÁREA RURAL do BRASIL vivem da agricultura, ponto que vou desenvolver melhor, tratando a REGIÃO OU ÁREA RURAL no Brasil, usando estudos de Ricardo Abramovay. 

Depois dos latifundiários, no sentido mais estrito, há também os arrendatários capitalistas (uns 30.000 burgueses-arrendatários). Estes controlam áreas produtivas e não devem ser tratados como inimigos, e sim neutros, embora quase sempre façam aliança com os latifundiários. 

Depois, há o terceiro estrato, há a pequena burguesia agrária (uns 500.000 proprietários, com propriedades de 100 a 1.000 hectares). Devem ser ALIADOS, é essencial que sejam ALIADOS, friso. 

Na parte oprimida, há o PROLETARIADO RURAL, que totalizam algo como 23 milhões ou mais. Lembro que estes 23 milhões são parte dos que trabalham nas ÁREAS OU REGIÕES RURAIS do Brasil, mas há uns 60 milhões de pessoas ou MAIS que moram em ÁREAS RURAIS.

A maior parte dos Municípios do Brasil são como pequenas vilas rurais, no fundo, e o mesmo vale para boa parte das áreas dos Municípios do Brasil. Municípios de 10 a 20 mil quilômetros quadrados ou algo assim, tendo apenas, no centro, áreas urbanas de 30 km quadrados, ou bem MENORES MESMO.

O grosso do território brasileiro é composto de ÁREAS RURAIS, ponto que vou mostrar em outras postagens. A maior parte do Território brasileiro é RURAL. Os Municípios têm áreas de 10 a 20 mil quilometros quadrados e núcleos urbanos de 10 km quadrados, 20 km quadrados e, no máximo, uns 30 km quadrados, e isso nas Metrópoles. A cidade de São Paulo é um quadrilátero de uns 40 km quadrados ou algo mais, mesmo sendo talvez a quinta cidade do mundo, é um pingo em relação aos tamanhos dos Municípios de 10 mil km quadrados. Basta examinar o mapa de cidades como Patos de Minas MG para ficar claro isso. Há um centro pequeno urbano, cercado de áreas rurais, muito mato etc. 

Destes 23 milhões de trabalhadores rurais no sentido mais restrito, há apenas 5 milhões de proletários rurais (assalariados rurais, permanentes e temporários). A maior parte não tem carteira assinada, sendo hiper fragilizados, flutuantes, com contratos temporários, totalmente precarizados. 

Quero DESTACAR que o maior número dos trabalhadores rurais é composto de 18 milhões de posseiros, parceiros, meeiros, arrendatários etc.

Nestes 18 milhões, há uns 10 milhões de trabalhadores sem-terra e semi-proletários, que vivem em áreas menores de 5 hectares. Também são pequena agricultura familiar, mas fragilizada, precarizada, fraca. 

E há os pequenos produtores, no total de oito milhões de trabalhadores que vivem em áreas de 5 a 100 hectares e que trabalham em regime de economia familiar, sendo muitos posseiros. 

Fica claro que é essencial defender os direitos trabalhistas dos assalariados rurais, mas também é ESSENCIAL a defesa da AGRICULTURA FAMILIAR, que abarca a MAIOR PARTE da população rural brasileira e de trabalhadores rurais.