Deus adora estar dentro de nós, em nosso espírito, divinizando as pessoas, vivendo nossas vidas, com paixão e luz

A forma de tornar o Estado (e a sociedade, a escola, uma pequena empresa, uma família etc) algo justo e bom é a mesma forma aplicável a qualquer outro ato humano.

Os atos humanos são bons, são “virtudes” (poderes legítimos, bons), se forem atos racionais e adequados ao bem comum. Adequação ao bem comum (difusão de bens, destinação universal de bens) e racionalidade (subjetividade da ação humana, controle da pessoa sobre o processo produtivo ou conduta). 

Do mesmo modo, o Estado deve ser racional e adequado ao bem comum, para ser legítimo.

Como Leão XIII ensinou, numa Carta ao Episcopado de Portugal, em 14.09.1886, “a santidade da vida”, a santidade (virtudes, em grau heroico), significa pautar a vida por “costumes bons e honestos”, costumes (hábitos) racionais e adequados ao bem comum.

A “aura” (“brilho”, luz, como as estrelas) dos santos é formada pelo “brilho” das “virtudes e das boas obras” (cf. Leão XIII, em carta aos bispos da Hungria, em 22.08.1886).

Os atos estatais são atos humanos. Assim, se forem virtudes, serão legítimos (justos, como devem ser), pois “virtudes” são atos racionais e adequados ao bem comum, são atos bons.

Pio X, na carta ao Episcopado italiano, “Il Fermo Proposito” (11.06.1905), urgiu a participação do povo (dos leigos) nas “funções públicas”, com “o firme e constante propósito de promover, o quanto possível, o bem social e econômico da pátria, particularmente do povo”.

O livro de Dom Luigi Sturzo, “La democrazia Cristiana dal 1848 al 1948”, registra esta linha histórica, que foi consagrada no Concílio Vaticano II. Pio XII, no II Congresso Mundial do Apostolado Leigo (em Roma, outubro de 1957), também destacou o dever dos leigos (do povo, de cada pessoa concreta) de participar (“intervir”) “na vida econômica, social e política de seus países”.

O próprio Pio X, na “Notre Charge” (25.08.1910), destacou que “reerguer a dignidade humana” e elevar “as condições” dos trabalhadores, fazendo “reinar sobre terra” a “uma justiça melhor e mais caridade” são “esforços” “excelentes a todos os respeitos”, são deveres de cada pessoa e também da sociedade e do Estado.

Pio XI lembrou o ensinamento de Leão XIII, no mesmo sentido.

O principal, como ressaltou Pio XII na Mensagem de Natal de 1955, é proteger “a liberdade [subjetividade da conduta, intencionalidade, planificação pessoal] conjugada com o respeito da dignidade e liberdade alheias” [adequação ao bem comum, promoção do bem de todos, da vida de todos].

Leão XIII, autor da “Rerum novarum” (onde há a defesa de uma sociedade baseada no trabalho, nos direitos sociais), na “Diuturnum Illud” (23.06.1881), ensinou que “os povos” devem “escolherem o governo que melhor responda a seu caráter”, formando “instituições e costumes” para a realização da justiça, do bem comum.

Leão XIII, ainda na “Diuturnum”, 1881, frisou que “toda sociedade” (todo Estado, todo governo) deve ter “sua atividade” dirigida para “o bem comum”, sendo este a razão de ser, a finalidade, da “autoridade”. Em paralelo a isso, o Partido do Centro, na Alemanha, se coligava com o Partido Progressista e apoiava a formação do Estado social, feita por Bismarck, e com isso o Partido do Centro passou a ter a maior bancada no parlamento Alemão. 

Deus aprecia ter a ação humana como colaboradora, quer a participação ativa de todos na condução pelo rio da história, tanto na obra da salvação, na construção e gestão da Igreja, na gestão do Estado, na escolha das profissões, no casamento ou na geração de filhos. Deus nos ajuda pela premoção (tomismo) ou pela cooperação (molinismo), Deus adora se mover junto conosco, nos ajudando, dentro de nós.

Deus adora estar dentro de nós, unido a nós, atuando em nós, como um Fogo, uma Luz, Energia viva, Coração ardente, Inteligência dialógica etc. 

Como lembrou Paulo VI, na “Humanae Vitae” (25.07.1968), a “transmissão da vida” ocorre por ação divina com a participação do homem e da mulher como “colaboradores livres e responsáveis”, para gerar uma nova vida, que é sempre “fonte de alegrias”.

Da mesma forma, a constituição de governos e Estados requer sempre a ação humana, do povo, livre e responsável, requer o consenso, a participação ativa de todos (“omnium consensu”, pelo consenso de todos”).

Para resumir tudo – a boa teologia exige Democracia Popular Participativa, Estado social amplo, economia mista com predominância dos controles públicos em sinergia com cogestão das pessoas etc.