O povo é mais sábio que qualquer sábio, cf. Protágoras, Aristóteles e São Tomás de Aquino

Alceu Amoroso Lima, no livro “Estudos” (Rio de Janeiro, Ed. Civilização Brasileira, 1933, 5ª série, pp. 327-328), colecionou vários textos importantes de Santo Tomás de Aquino sobre a criatividade da sociedade, do povo. Santo Tomás ensinava que “a filosofia, como a arte, é um desenvolvimento contínuo” (cf. “Suma Teológica”, I – II, q. 97, a. 1), é o fruto do diálogo do povo, como um desdobramento da própria natureza, da criação, do Projeto de Deus no universo.

Alceu destacou os textos de São Tomás de Aquino, onde o maior dos Doutores da Igreja ensina que a sabedoria (a filosofia, incluindo a política etc) é fruto do diálogo, da parcipação da pessoas na produção do saber:

Um único indivíduo de gênio, pelo resultado de seus estudos, não pode trazer à ciência senão uma contribuição mínima, quando se leva em conta a imensidade da verdade total. E entretanto, é da congregação e da distribuição harmoniosa dessas inumeráveis verdades particulares, escolhidas e reunidas, que se pode levantar qualquer coisa de grandioso” (cf. “Meta. II, lect. I) (…).  É graças ao tempo que se completa a obra coletiva, no sentido de que todo pensador se forma pelas descobertas de seus antecessores, acrescentando-lhes a sua própria reflexão” (cf. “Eth. I, lect. II)”.

Pascal expôs a mesma idéia, comparando a humanidade a uma pessoa só, que vai aprendendo com o tempo, pelo diálogo. Na “querela entre os antigos e os modernos”, esta comparação era feita para demonstrar que os velhos eram a geração atual, sendo os jovens os que viveram há milhares de anos. O povo é sempre mais sábio que qualquer sábio, ponto bem explicitado por Aristóteles, no livro “Política”. 

Pio XII, num discurso de 28.02.1957, explicou o universalismo ou ecletismo católico: a Igreja sempre procura distinguir o bem do mal, mantendo e ampliando o bem comum na história. O método de abertura às verdades implica em “conservar” “em vida” tudo “aquilo que os séculos demonstraram ser bom e fecundo”, as boas tradições. A Igreja rejeita a “fossilização” de “formas ultrapassadas pelos tempos”. Assim, o amor às boas “tradições” “não impede absolutamente em nada o justo e feliz progresso”, sendo um “poderoso estímulo para perserverar no caminho seguro”, evitando, assim, “declínios”.

A evolução fica patente nas ciências e artes, especialmente na ciência jurídica, na evolução das normas jurídicas positivas, que são como as idéias científicas positivas, que vão sendo melhoradas com o tempo, pela força do diálogo entre milhões de pessoas, entre o povo.