A Igreja quer uma DEMOCRACIA POPULAR, UMA ECONOMIA DO TRABALHO, um amplo ESTADO SOCIAL, que erradique a MISÉRIA, A EXPLORAÇÃO, A REIFICAÇÃO, as GRANDES FORTUNAS PRIVADAS

A DOUTRINA da Igreja sempre foi DEMOCRÁTICA. No fundo, o modelo que defendemos é uma DEMOCRACIA PLENA, ponto que Maritain soube explicar.

Uma Democracia do trabalho, com PRIMADO DO TRABALHO. DEMOCRACIA ECONÔMICA. Uma vasta República do Trabalho, como está na Constituição da Itália.

A teoria da translação foi sempre a CORRENTE MAJORITÁRIA DA TEOLOGIA CATÓLICA. Está na Bíblia, nos Santos Padres, na Antiguidade, na Idade Média mesmo (na parte boa, do movimento das Comunas, dos artesãos, dos camponeses, dos pequenos burgueses etc). 

A mesma teoria da Translação está no melhor da ESCOLÁSTICA. Está nos melhores textos dos Monges, dos Dominicanos, dos Franciscanos, dos Jesuítas etc.

Depois, volta para os textos de Mably, tal como está nos textos dos grandes padres da Enciclopédia (BOA PARTE DA ENCICLOPÉDIA é formada por TEXTOS CATÓLICOS, inclusive de VÁRIOS PADRES, TEÓLOGOS E FILÓSOFOS CATÓLICOS).

A teoria da translação, da Democracia, também está em Montesquieu, em Sieyès, reaparecendo, mais tarde, em Chateaubriand.

Também faz parte das idéias do barão de Eckstein.

Estas mesmas idéias estão também na Escola do Espiritualismo ou dos Ecléticos (romantismo católico), adotada por quase todos os católicos leigos e por centenas de bispos, no século XIX.

No século XIX, os países católicos da América Latina já davam exemplos de democracia aos povos da Europa. Houve eleições e constituições aqui antes de vários países da Europa.

A teoria da translação também foi esposada por expoentes do catolicismo como: Jaime Balmes, Alexis de Tocqueville (“Da democracia na América”), Antoine Frédéric Ozanam (1813-1853), Lacordaire, o bispo Wilhelm Emmanuel Ketteler (1811-1877), Rosmini-Serbati (1797-1855, Ministro da Educação de Pio IX, tendo recusado o chapéu de cardeal), o padre Isaac Thomas Hecker (1819-1888), Acton, Albert de Mun, Léon Harmel (republicano católico), o Cardeal Gaspar Mermillod (1824-1892), o Cardeal James Gibbons (1834-1921), Spalding, o padre Francisco Olgiati (um dos primeiros biógrafos de Marx), Maritain e outras grandes estrelas.

Acton, no livro “História da liberdade”, expôs a teoria da translação e cunhou a máxima democrática: “o poder absoluto corrompe”.

Outro grande jurista foi o bispo Dom Flaviano Abel Antônio Hugonin (n. em 1823), bispo de Lisieux e Bayeux, Superior dos Carmelitas, tendo sido também deão de Santa Genoveva, em Paris.

A cidade de Lisiex foi justamente a cidade de Santa Terezinha do Menino Jesus (1873-1897). Hugonin era o superior dos carmelitas e o bispo de Teresa. Este bispo presidiu a cerimônia da entrada desta santa no Carmelo. Este bom prelado, Dom Hugonin, escreveu o livro “Philosophie du droit social” (“Filosofia do direito social”, 1885), onde desenvolve as mesmas idéias democráticas que já lecionava, antes, no curso de Direito, na Sorbonne, em 1864.

Hugonin criticou os erros do “tradicionalismo” de Louis de Bonald (1754-1846), mas reconheceu o mérito das críticas sociais deste ao liberalismo. Bonald não seguia a tradição clássica dos Santos Padres e tomista, e sim erros fideístas de Burke, não tendo o apreço correto à razão humana, mas há partes boas em Bonald, de crítica ao liberalismo econômico.

Hugonin deixou clara a conciliação entre democracia real e catolicismo, numa linha próxima do Cardeal Gibbons, nos EUA. Na linha dos grandes cardeais posteriores, ingleses, Manning e NEWMAN.

Hugonin pautava-se por bons autores como Rosmini, que trataram sobre a justiça social.

O bispo Hugonin elaborou uma síntese entre Rosmini, Platão, Aristóteles, Malebranche (seus bons textos sobre ética) e Santo Agostinho. Hugonin escreveu outras obras, como “Da matéria e forma segundo Santo Tomás” e “Ontologia ou estudo das leis do pensamento” (1856).

Estes autores, e outras centenas, citados neste BLOG, bastam para abonar a tradicionalidade da teoria da translação, pois são grandes intérpretes da Tradição dos Santos Padres e também da tomista.

A outra grande teoria católica sobre o poder é a “teoria da designação”. No entanto, é mais recente que a teoria tradicional, pois data da metade do século XIX.

A teoria tradicional foi construída sobre os pilares inquebrantáveis da Paidéia e da Bíblia. As duas teorias são jusnaturalistas e têm amplos pontos em comuns. Ensinam que o povo pode designar os governantes e que o ordenamento jurídico estatal deve ser uma explicitação da “lei natural”, ou seja, das idéias práticas presentes em todos, idéias racionais, correlatas ao bem comum.

A teoria da translação, na esfera econômica, exige uma REPÚBLICA COOPERATIVA, um modo de produção cooperativo, com base em trabalhadores associados, mais MICROS E PEQUENOS PRODUTORES.

As idéias cristãs sobre o poder (Estado) e economia foram também expostas por autores como Vareilles-Sommières.

Outro grande nome foi Daniel O´Connell (elogiado por Pio IX), o grande irlandês, admirado inclusive por Karl Marx, que ensinou várias técnicas de luta política, de pressão política libertadora. O´Connell foi também elogiado por Flora Tristan, por Papas e por vários grandes românticos.

A exposição da teoria clássica da translação ou da mediação da sociedade consta também em obras como o livro de Lachance, “O humanismo político de Santo Tomás” e “O conceito de direito”.

Está também nos textos de Marciano Vidal, Häring e Javier Hervada. Em cada país católico, há dezenas ou centenas de autores que adota a mesma teoria.

No século XX, há ainda a autoridade de grandes autores católicos: Charles Péguy (1873-1914, católico e socialista), Jacques Maritain (1882-1973), Emmanuel Mounier, Delos, Louis Le Fur, Valensin, Gaston Fessard, Jarlot, Gredt, Georges Renard, Hauriou, François Gény, Raymond Saleilles, o Cardeal Charles Journet, Lallement, o Cardeal Joseph Hoffner (discípulo de Suárez), Du Pasquier, o padre Simon Deploige (1868-1927), Gustav Gundlach, Eberhard Welty, o Cardeal Zigliara, Rommen, Guido Gonella, Carnelutti, José Corts Grau, Tomás Casares, Jean Jacques Chevallier, Maurice Hauriou, Scelle, Vanni, Hillaire Belloc, Luigi Sturzo, Tanon, Chantrel, Giorgio La Pira (“Para uma arquitetura cristã do Estado”), Jean William Lapierre, Jacques Leclerq, Roguin, R. W. Carlyle, Alceu, Congar, Jonathas Serrano, Alexandre Correia e outros.

A lista poderia seguir com milhares de outros escritores, políticos, juristas e publicistas católicos.

O padre Llovera é outro grande expositor da teoria tradicional e clássica.

Llovera, no livro “Tratado Elemental de sociologia cristiana” (Barcelona, Ed. Luis Gili, 1934), elogiava a Escola de Liège, dos Reformadores católicos e a Escola da Democracia Cristã (de Pottier, Sangnier e outros), deixando clara sua ligação com o ideal de uma democracia social, econômica e popular, voltada ao bem comum.

Llovera também elogiava a “escola harmônica”, que conciliava a liberdade (legítima autonomia da pessoa) com o bem comum, com a socialização.

Llovera seguiu a linha de Pesch e dos harmônicos, buscando a planificação participativa, com mecanismos de co-gestão, autogestão e cooperativismo.

O padre Heinrich Pesch também seguia parte da escola cristã dos socialistas de cátedra (a maior parte era formada por cristãos) tal como a linha dos historicistas como Roscher, Hildebrant e especialmente Adolf Wagner e Meyer (um grande cristão, amigo de Frederico Engels, com quem bebia vinhos alemães, cervejas alemães, especialmente do Reno).

As idéias de democracia social e participativa eram, no fundo, em linhas gerais, os ideais de Buchez, Ozanam, Lamennais e Ketteler, tal como eram as idéias do bispo Gregório.

São os ideais de uma democracia social, participativa, cooperativista.

As mesmas idéias inspiraram o padre Camilo Torres, na redação de sua “plataforma da Frente Unida Colombiana”, expondo o ideal de democracia social e popular, almejada pelas idéias cristãs e humanistas.

Conclusão: Llovera, em suas obras, explicou corretamente a concepção de poder (do Estado) e da economia do cristianismo, uma concepção que, aplicada às circunstâncias históricas presentes, aponta, como ideal histórico, uma democracia ECONÔMICA, social, participativa, popular, cooperativista e comunitária.

Este é o ideal histórico da democracia cristã, da doutrina social da Igreja, dos textos papais e dos bispos, dos melhores teólogos, sendo também o ideal da teologia da libertação.

Este ideal libertário era, também, o de Alceu Amoroso Lima, de Barbosa Lima Sobrinho, de José do Patrocínio, Joaquim Nabuco, Rui Barbosa e de outros grandes católicos brasileiros e latino-americanos.