Uma lição de teologia política do Monge Campanella, lá por 1640

Campanella, no livro “Cidade do Sol”, ensinou que os atributos divinos podem ser compreendidos palidamente, podem ser explicados, para que tenhamos uma idéia de Deus.

Campanella ensinou que os habitantes da Cidade do Sol, mesmo sem a Revelação, pela luz natural da razão, como Platão:

Adoram Deus na Trindade, o que causa admiração, mas dizem eles que Deus é Suma Potência, da qual procede a Suma Sapiência, que é também Deus, e de ambas o Amor, que é Potência e Sapiência, embora o procedente não tenha a essência daquilo de que procede e não retrocede. Não possuem, todavia, como os cristãos, noções distintas das três pessoas citadas, pois não tiveram revelações, mas reconhecem em Deus procedimento e relação própria a se, dentro de se e por se. Todos os seres, portanto, derivam sua essência da Potência, da Sapiência e do Amor, enquanto têm existência, e da Impotência, da Ignorância e do Desamor, enquanto participam do não-ser. Pelas primeiras, adquirem mérito, e, pelas segundas, pecam, ou com ofensas contra o costume e a arte que derivam de todas três, ou somente do terceiro, da mesma forma que uma natureza especial peca por ignorância e impotência quando produz um monstro”.

Como explicou Campanella (com base nos textos de Agostinho e de Abelardo), Deus, a “Suma Potência” (o Criador, o Senhor, a Coroa, o Pai, “Kether”) age sempre pela “Suma Sapiência” (pela Sabedoria, o Verbo, o “Noous”, o Logos, por Jesus, conforme a “Binah” e a “Chochmah”, de forma sábia e inteligente), visando o “Amor”, que é a Bondade, a Misericórdia, a Caridade, o amor ao próximo como a si mesmo, o Bem comum, universal.

Os três pilares (atributos) da noção humana da Trindade (que está bem além de nossa compreensão, tal como está além o que prepara Deus para o futuro) abonam a tese da democracia.

Neste mesmo sentido, Jon Sobrino escreveu “corresponde-se ao Reino de Deus fazendo justiça, eliminando as crassas diferenças sociais, usando o poder de maneira nova em favor dos pobres”.

O livro “Sabedoria”, do Antigo Testamento, traz textos claros, tal como os Salmos. Por exemplo, no Salmo 145,9, há o seguinte texto: Deus “faz as criaturas participarem de Seu Ser, de Sua Sabedoria e de Sua Bondade”, o que ressalta a Trindade (Ser, Sabedoria e Bondade). A expressão “Elohim” também é sinal da Trindade, pois a Bíblia usa uma palavra no plural para designar Deus.

O termo “echad”, “união composta”, também traz, em si, o ensinamento da Trindade. A Bíblia usa a palavra hebraica “echad” para a descrever a união amorosa do homem e da mulher (cf. Gn 2,24) com o termo “echad”, o mesmo termo usada para designar a união de Deus, em “Deuteronômio” 6,4.

Em Gen 1,26, a Bíblia diz: “façamos [plural] o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”, da Trindade. Este texto, de Gênesis 1,26-28, tem tamanha carga política, que, por si só, traz toda a teologia política e da libertação, tal como o “Magnificat”, de Maria (que será analisado em postagens específicas, sobre a teologia política de Nossa Senhora, teologia socialista e distributista).