De onde vem o super-ministro da economia?
O Economist de 13 de dezembro de 2018, na reportagem “Jair Bolsonaro must tackle Brazil´s soaring pensions spending” apresenta o nosso novo ministro da Economia: “Paulo Guedes, who studied at the University of Chicago and co-founded BTG Pactual, Brazil’s foremost home-grown investment bank”.
Vale a pena dar uma olhada no que é esse banco. O relatório anual do Valor Econômico de 2015 apresenta o conjunto de empresas controladas pelo grupo BTG Pactual. Setores de atividade: bancos comerciais e múltiplos, corretoras e distribuidoras de valores. Principal executivo André Santos Esteves. Co-fundador Paulo Guedes.
Investment bank parece respeitável, mas em inglês não existe o conceito de aplicação financeira, qualquer atividade especulativa é apresentada como investment.
O mecanismo aparece de forma muito clara ao constatarmos a dimensão e importância da “ponte” que foi montada entre os grupos no Brasil e os paraísos fiscais.
Em 2015, o “Valor Grandes Grupos” publicou um organograma do BTG Pactual, nas páginas 128 a 131, que nos permite acompanhar a lista das filiais do banco. Ele pode ser acessado neste link –http://dowbor.org/2019/04/btg-pactual-valor-grandes-grupos-2015.html/ –, ou clicando na imagem abaixo:
Ao observarmos o organograma acima, chegamos na lista das filiais do BTG localizadas em paraísos fiscais:
BTG Pactual Overseas Corporation (Ilhas Cayman)
BTG Pactual E&P S.a.r.l. (Luxemburgo)
BTG Pactual Chile International Limited (Ilhas Cayman)
BTG Pactual Oil & Gas S.a.r.l. (Luxemburgo)
BTG Pactual Carry L.P. (Cayman)
BTG Pactual Holding S.a.r.l. (Luxemburgo)
BTG Global Asset Management Limited (Bermuda)
Banco BTG Pactual S.A. Filial (Luxemburgo)
BTG Pactual Chile International Corp. (Panamá)
BTG Bermuda LP Holdco Ltd. (Bermuda)
BTG Investments LP (Bermuda)
BTG Pactual Proprietary Feeder (1) Limited (Ilhas Cayman)
BTG Pactual Brazil Infrastructure Fund II LP (Cayman)
BTG Pactual Reinsurance Holdings LP (Bermuda)
BTG Pactual Brazil Investment Fund I LP (Cayman)
BTG Pactual Brazil Investment Fund IA LP (Cayman)
BTG Pactual Brazil Investment Fund IB LP (Cayman)
BTG Pactual Prop Feeder (1) S.a.r.l. (Luxembourg)
BTG PactualBrazil Infrastructure Fund II Direct LP (Cayman)
BTG Re Ltd (Bermuda)
BTG Pactual Brazil Investment Fund I LLC (Delaware)
BTG Pactual Brazil Investment Fund IA LLC (Delaware)
Btg Pactual Brazil Investment Fund IB LLC (Delaware)
BTG Pactual Stigma LLC (Delaware)
Reserve Insurance Co Ltd (Gibraltar)
BTG Pactual Brazil Investment Fund I Feeder LLC (Delaware)
BTG Pactual Brazil Investment Fund IA Feeder LLC (Delaware)
BTG Pactual Brazil Investment Fund IB Feeder LLC (Delaware)
BTG Swiss Services S.A. (Suiça)
BTG Pactual Brazil Infrastructure Fund II LLC (Delaware)
BTG Loanco LLC (Delaware)
BTG Pactual Brazil Investment Fund I Feeder LLC (Delaware)
BTG Equity Investments LLC (Delaware)
BTG Pactual Brazil Infrastructure Fund II LLC (Delaware)
BTG Pactual ARF Master Fund LP (Cayman)
BTG Pactual Propertyco LLC (Delaware)
BTG Pactual Propertyco II LLC (Delaware)
É útil lembrar que segundo o Tax Justice Network de Londres, em 2012, o Brasil tinha 519,5 bilhões de dólares em paraísos fiscais, equivalentes a cerca de dois trilhões de reais, um estoque que representa, como ponto de referência, quase um terço do PIB do país.
O site do banco apresenta, como todos, os seus elevados princípios éticos, integridade etc., e os lucros correspondem à altura. Na realidade, se trata evidentemente de drenos sobre a economia produtiva, e a densidade da rede de paraísos fiscais sob seu controle mostra bem o destino.( Para ver como funciona, veja o meu capítulo sobre paraísos fiscais no A Era do Capital Improdutivo, capítulo 6, com um vídeo de 12 minutos, http://dowbor.org/2018/08/curso-pedagogia-da-economia-com-ladislau-dowbor-instituto-paulo-freire-2018-15-aulas.html/).
O nosso super-ministro tem essas raízes, e navega na solidariedade com os interesses financeiros. Passar a previdência para o controle dos bancos privados, desvincular as receitas do Estado para que possam se apropriar do financiamento da educação, saúde e outras políticas sociais, buscar a apropriação da gestão do FGTS – tudo em nome de reduzir o déficit do Estado, aumentando o rombo que precisamente os bancos geram, é bastante coerente.
Mas não corresponde às necessidades nem da massa da população que precisa de mais renda e crédito barato, nem das empresas que precisam da demanda dessas famílias para ter para quem vender e de crédito barato para poder investir.
* Ladislau Dowbor, economista, é professor da PUC-SP, consultor de diversas agências das Nações Unidas e autor de numerosos livros e estudos técnicos disponíveis de forma aberta e gratuita em: . Contato: ldowbor@gmail.com.