Os integristas caluniam e difamam a Igreja, atribuindo ideias reacionárias a Igreja, quando a Ética cristã é revolucionária, popular e construtiva, pró socialista

Na época da Revolução Francesa, as objeções colocadas por Pio VI, no Breve ao cardeal de la Rochefoucault e aos demais bispos, em 10 de março de 1791, tinham como principal causa os erros do liberalismo econômico e a interferência indevida do Estado na Igreja (por exemplo, a Constituição do Clero.

Pio VI, neste documento, criticava a “omnímoda liberdade” estabelecida sem “levar em conta a razão”. Ou seja, criticava diretamente o conceito de liberdade sem controles sociais e públicos do liberalismo econômico.

O papa estava certo – Liberdades sem controles públicos e sociais, sem limites sociais, de fato, não atendem à racionalidade inerente à natureza humana, sendo um conceito vazio e errado, base falsa do capitalismo, base para divinizar o mercado, o caos, a desordem, a vontade dos ricos.

Pio VI ainda criticava o ordenamento jurídico liberal por “ignorar que o homem não foi criado só para si mas também para ser útil aos outros”.

Pio VI ainda criticou os liberais por ignorarem que “tal é a debilidade da natureza, que os homens, para sua conservação, necessitam se socorrer um ao outro”. Foram críticas boas ao individualismo homicida dos liberais.

Neste Breve, Pio VI considerava que “essa igualdade e essa liberdade tão decantadas” eram “quimeras e palavras sem sentido”, o que significa que apreciava corretamente tais valores e considerava os dispositivos hipócritas, por não os assegurarem.

Pio VI defendeu que “os direitos da liberdade fossem circunscritos pelas leis e pela autoridade dos que governam”, ou seja, disse que a liberdade de cada um deve ter limites sociais, que devem ser circunscritos (delimitados em esferas, por formas jurídicas sujeitas ao bem comum), pelo ordenamento jurídico positivo, pelo Estado (a serviço da sociedade), com base na ética (no bem comum).

Pio VI terminou o “Breve” dizendo que “não é nosso desígnio despertar o restabelecimento do Antigo Regime da França, segundo interpretaram os caluniadores, difundindo tão falsa imputação com a finalidade de tornar odiosa a Religião”.

A calúnia, “falsa imputação”, infelizmente, tomou asas e foi coonestada pelas correntes integristas e neoliberais, como a antiga TFP e os sucessores de Plínio Correia de Oliveira. Após ler a biografia de Plínio, feita de seus textos e entrevistas, e centenas de artigos que ele escreveu, fica claro que Plínio nunca defendeu ideias de ética social, de progresso social, de amparo aos pobres e aos trabalhadores. Por isso, desde 1943, Plínio, como ele mesmo confessa, ficou excluído da Igreja, nunca convidado para nada, alijado, já que era contra as ideias da Ação Católica, de ética social, contra as ideias fundamentais da ética de Cristo.

Pessoas geniais como Maritain, Mounier, Bergson, Bernanos, Alceu e outros restabeleceram a verdade, apontando que os ideais de democracia eram ideais cristãos.

As correntes integristas, submissas ao poder econômico ou político (usurpado ao povo), difundem idéias erradas e sacrílegas (por exemplo, a defesa do latifúndio, das Bolsas de Valores, do imperialismo, da usura que é a base da dívida pública e outras desgraças) que tornam “odiosa a religião”.

Os integristas fazem o papel do Diabo. Não evangelizam o povo. Causam escândalo, afastam o povo da religião. Um Dom Sigaud ou um Cônego Salim (defendia a pena de morte), ou mesmo o último Gustavo Corção ou a antiga TFP, prejudicaram a Igreja, distorceram a religião permitindo que a mesma parecesse que é o “ópio” do povo e nisso prestaram bons serviços aos anticlericais e aos que odeiam a religião.

Foram os integristas que afastaram parte dos proletários da Igreja, que afastaram parte da juventude, das mulheres, dos cientistas etc. 

Enquanto Pio VI tentava obter sínteses, houve, em Roma, como expressão do bom catolicismo, a edição de uma grande obra, chamada “Sobre os direitos do homem” (“Dei diritti dell’uomo”), de Nicola Spedalieri (1740-1795), publicada em 1791.

O livro do padre Spedalieri, na linha de Galiani e outros grandes napolitanos, tinha seis livros, fazia uma síntese entre catolicismo e o melhor do enciclopedismo, da democracia. Defendeu a velha teoria da delegação do poder público, escrevendo: “a verdadeira soberania não pode ser senão a expressão da mente, da vontade e da força do povo”, na mesma linha de Santo Ambrósio, dos grandes Santos Padres, da Patrística, do melhor da Escolástica, a linha bíblica, dos Apóstolos, do melhor do judaísmo, de Moisés, de Abraão, de Israel, dos Patriarcas, dos grandes Profetas, dos melhores livros de ética do judaísmo, do melhor da filosofia, dispersa em toda a terra (fenícios, egípcios, babilônicos, persas, semitas, gregos, grandes romanos, do melhor dos povos bárbaros, dos chineses, coreanos, japoneses, hindus etc).

Nos EUA, a tradição democrática também é quase toda religiosa, com fundamentos cristãos ou hebraicos.

Os textos de Benjamin Franklin, Washington, Thomas Jefferson, Thoreau, Mark Twain, Whitman, William James e de centenas de outros escritores não deixam dúvidas sobre este ponto.

A tradição democrática é distinta do liberalismo econômico, como foi demonstrado por Franklin Roosevelt, por Dewey, por Chomsky e pelos socialistas americanos, como o Senador Bernie Sanders.