Ramalho Ortigão (1836-1915) foi um grande escritor, amigo de Eça de Queiroz (1845-1900). Eça também se converteu e redigiu boas obras religiosas, no final da vida, exatamente como Voltaire, Tobias Barreto e outros. Ortigão redigiu, por vários anos (a partir de 1871), “As farpas”, com fascículos mensais, mais tarde recolhidos em livros. O velho Ortigão era nacionalista, católico e democrático, especialmente quando sua cabeça ficou mais branca e serena. No tomo V, “A religão e a arte” (Lisboa, Ed. Fluminense, 1927, p. 15), Ortigão elogia o Congresso de Malines, em 1863/64, transcrevendo vastas porções do discurso de Montalembert (um autor que até Marx admirava e citava com transcrições).
Montalembert, como destacou Ortigão, ensinava que “o verdadeiro progresso” está na “solidariedade entre a democracia e o catolicismo”, entre o povo e a Igreja. Este era o mesmo ponto-chave destacado nos textos de Carlos de Laet, nos textos do padre Júlio Maria, na Pastoral do Cardeal Leme (que fascinou Jackson e Alceu) etc. Também era a base dos textos de bispos como Dupanloup.
Neste discurso, Charles Montalembert discorreu sobre “a Igreja livre no Estado livre”, sendo esta a base da atuação de Camilo Benso Cavour (1810-1861), Rui Barbosa e outros. A frase “Igreja livro no Estado livre” pode ter sido usada por Vinet, mas foi Montalembert quem a divulgou. No livro “A cidade e as serras” (1899, publicada após sua morte), fica patente a religiosidade de Eça e seu bom apego ao campesinato e à vida rural.
O discurso de Montalembert fixou com clareza o conceito de laicidade que a Igreja aceita e faz parte do cristianismo. Como veremos mais adiante, o Arcebispo Dupanloup soube esclarecer e mostrar como o melhor dos textos de Malines estava em harmonia com as idéias centrais até mesmo da “Quanta cura” (08.12.1864). O mesmo fez o Cardeal Newman, na “Carta ao Duque de Norfolk” (Gladstone), onde explicou o significado correto do “Sílabo”. Repetiu a mesma explicação em “Dificuldades dos anglicanos”.