O Socialismo como opção melhor do católico, vide Suarez, Padre Vieira, Merton e Alceu

A doutrina de Suárez era a doutrina escolástica e da Escola de Salamanca, sendo ensinada em Coimbra. Suarez foi o maior continuador de São Tomás de Aquino. Representa o veio melhor da teologia católica, a mais tradicional.

E a corrente de Suarez é DEMOCRÁTICA E SOCIALISTA.

Foi também adotada pelo padre Vieira, numa forma de “socialismo” cristão, como constatou João Camilo de Oliveira Torres, em várias obras.

Vieira elogiava as estatais, queria uma espécie de estatização dos bancos, advogava por formas de regulamentação pública da economia, tal como era inimigo mortal da escravidão, lutando contra os escravocratas, em defesa dos índios e obtendo a reiteração da condenação papal à escravidão.

O que é bom é “universal” (“católico”, em grego), pois a alma é naturalmente cristã (cf. Tertuliano).

Por isso, o provérbio que sintetiza a teoria hebraica e cristã sobre o poder – “voz do povo, voz de Deus – pode ser encontrado em outras culturas e religiões e isso ocorre por causa da “lei” (idéias verdadeiras) natural, inscrita naturalmente no coração (na inteligência), tal como no imo da estrutura, de todas as pessoas, como explicou São Paulo (cf. “Romanos”).

Assim, no bramanismo (hinduísmo), especialmente no vixnuísmo, há também o termo “bhakti” (nos “Upanichades” e no “Bhagavad-Gita”), tendo implícita a idéia de um Deus único (ou pelo menos principal): “o absoluto reside no coração”, sendo “Brahama” (Deus) a alma do mundo (o “noous”, na expressão de Anaxágoras, Plotino e dos Santos Padres).

Para nós, católicos, Deus é o Amor que empapa o Universo, a Paixão, a Alegria, a Fonte da Vida, da Felicidade, do Movimento, da Evolução, das Lutas, da Agonia, da Melhoria, do sofrimento redentor de cada ato bom e esforçado do ser humano, e de todo ser do Universo.

Este é o mesmo ensinamento hebraico e cristão: Deus está presente em todas as partes, especialmente no coração, na consciência, no núcleo da matéria, sendo a pessoa, o povo o verdadeiro templo divino (o mundo também é como que um Templo divino, pois só subsiste pela ação divina permanente, criativa e presente, como Energia pura divina).

Neste sentido, vale à pena a leitura do artigo “O significado do Bhagavad-Gita”, do monge trapista Thomas Merton (1915-1968), tal como suas obras “Marxismo e perspectivas monásticas”, “Místicos e mestres do zen” (1967), “Sementes de contemplação” (1949) ou “Montanha dos sete patamares” (1948).

Há a mesma linha nos textos do padre Raymond Pannikar (n. 1918), especialmente no livro “A experiência cosmoteândrica” (1993).

Para o melhor do pensamento hindu (que coincide com o cristianismo nestes pontos), a pessoa que se salva (que é boa) “leva a Sua [de Deus] palavra no coração”, o que é o mesmo que dizer “vox populi, vox Dei”.

Há a mesma idéia geral nos mais de mil “Himnos Védicos” (Madrid, Ed. Nacional, 1975), tal como no “Código de Manu”. O mesmo ponto nos melhores textos do Talmud. 

Esta concepção é semelhante ao pensamento hebraico e também está nos textos de Sófocles (495-405 a.C.) e de Protágoras (490-420 a.C.).

Também há um bom jusnaturalismo nos melhores textos do taoísmo, especialmente no “Tao Te-king” (“Caminho da virtude”), de Lao Tse (n. 604 a.C).

O taoísmo, tal como o catolicismo, ensina corretamente que há a liberdade humana, o espírito e que as pessoas se salvam sendo boas, praticando o bem, controlando racionalmente as paixões (“libidinem frangere”, controle das pulsões) e afetos.

Há inúmeras regras éticas, boas e válidas, nos textos de Lao Tse, Confúcio, Chuang Tze (ou Tzu) e de Mo Ti (Mo-tzu, 479-381 a.C).

Os textos de Mo Ti, por exemplo, falam do amor universal, de Deus, das almas e dos espíritos, tendo elevada ética em muitos pontos semelhante à cristã.

O jusnaturalismo também está nas entranhas do islamismo (cf. Avicena e Averróes), por causa de suas raízes cristãs (nestorianismo) e hebraicas (vide “Fontes hebraicas do Alcorão”, do Rabino Abraham Geiger, 1810-1874).

No fundo, existem as mesmas regras fundamentais de conduta em todos os povos: entre os indígenas da América Latina; na cultura khmer, no Cambodja; entre os árabes, como fica claro nos textos muçulmanos; nos lapões; na África do Sul; no Egito; na Oceania; na Indonésia; em Madeira; no Haiti; na Bíblia, no Talmud; na cultura chinesa, em todas suas ramificações; na Rússia; no Japão; na cultura grega; nos povos africanos e da Oceania; entre os esquimós etc.

Edgar Quinet (1803-1875) era protestante e anticlerical, mas também soube destacar o papel do cristianismo no movimento democrático. Escreveu obras como “O cristianismo e a revolução francesa” (1845), “Ashasvérus, o judeu errante” (1833) e “A revolução” (1865). Para ele, como para nós católicos, o cristianismo era o motor da democracia, pela relação entre Deus e o povo.

Mazzini (seguindo os passos de padres que inspiraram Marx, na Escola do ensino médio que cursou, especialmente bons jesuítas) tinha a mesma concepção, resumindo sua teoria democrática com a frase “Deus e o povo”.