A boa linha “nacional estatista”, a linha do trabalhismo, da democracia popular, vista por Daniel Aarão Reis

O nacional-estatismo. 

Daniel Aarão Reis, Prof. de História na Universidade Federal Fluminense, escreveu um artigo, em 11.04.2010, chamado “Uma cultura política: o nacional-estatismo”, descrevendo a corrente política mais importante do Brasil, o verdadeiro fluxo subterrâneo do povo, no mesmo sentido exposto por José Honório Rodrigues, Alceu, Sergio Buarque de Holanda, Pontes de Miranda e outros socialistas democráticos. Abaixo, transcrevo alguns trechos do artigo referido, com comentários intercalados. 

“Nas últimas décadas do século passado, transformações consideradas inexoráveis, como o processo de globalização, o declínio do Estado do Bem-Estar Social e a desagregação do socialismo soviético apontavam para o fim do Estado Nacional, um anacronismo. Restava apenas o necrológio. Entretanto, certos processos históricos em nosso continente, como o da Venezuela e o da Bolívia, sem falar no surpreendente desenvolvimento econômico da China, recolocaram na ordem do dia esta cultura política que parecia morta e enterrada: o nacional-estatismo”.

“Trata-se de uma longa história. Desde o início do século XX, na Ásia e no mundo muçulmano, nas brechas criadas pelas rivalidades das grandes potências, surgiram concepções que defendiam a ideia de um forte Estado nacional como condição de emancipação econômica e independência política. Sun Yat-sen, na China, e Mustafá Kemal, na Turquia, tornaram-se pais das respectivas pátrias, reconhecidos até hoje, por terem liderado tais perspectivas. Em nosso continente, e pelas mesmas razões, Getúlio Vargas, Juan Perón e Lázaro Cárdenas, no Brasil, na Argentina e no México, respectivamente, transformaram-se em grandes figuras históricas nos anos 1930 e 1940. Nos anos 1950, outros movimentos, mais radicais e com crescente participação popular, confirmariam o vigor do nacional-estatismo. A revolução boliviana de 1952, a tentativa revolucionária na Guatemala, em 1954, as propostas do último governo Vargas (1951-1954) e, finalmente, a revolução cubana, em 1959, foram marcos desta nova onda nacionalista, na qual poderia também figurar o programa pelas reformas de base no Brasil, entre 1961 e 1964″.

O texto acima mostra bem como o programa nacional estatismo, de Getúlio Vargas, foi decisivo, especialmente o segundo governo, de 1951 a 1954. Há a mesma ideia nos textos de autores como José Honório Rodrigues e Darcy Ribeiro. Daniel Aarão Reis continua:

“É verdade, Cuba tornou-se um país socialista. Mas a revolução, quando vitoriosa, era essencialmente nacionalista — o programa, as bases sociais e a maioria das lideranças, inclusive Fidel Castro. Em perspectiva histórica, pode e deve ser reconhecida como ala extrema de um processo que, desde os anos 1930, mobilizou e convulsionou o continente. Aliás, se o foco de análise se amplia, pode-se dizer que no período posterior ao fim da II Guerra Mundial, até meados dos anos 1970, no então chamado Terceiro Mundo, o nacional-estatismo viveu uma época de ouro”.

“Esta cultura política suscitou a oposição de forças poderosas e heterogêneas, de direita e de esquerda. As direitas, cosmopolitas e liberais, não podiam senão se opor às propostas nacionalistas e estatais. As esquerdas socialistas e comunistas, embora favoráveis a muitos aspectos do nacional-estatismo, competiam com ele pela liderança dos trabalhadores urbanos e rurais. Diferentes motivações, portanto, formariam uma verdadeira santa aliança contra o inimigo comum a ser abatido.

Sob o conceito vago de populismo, construído por uma certa sociologia paulista, todas estas forças tentaram, então, apresentar o nacional-estatismo como um projeto malsão por natureza, manipulador e corruptor. Virou quase um senso comum a associação dos líderes populistas ao que de pior existe nos costumes políticos: demagogia, mistificação, desvio de dinheiros públicos.

Assim, e em grande medida, o golpe de 1964 foi dado para eliminar o populismo. Da mesma forma, as esquerdas revolucionárias, no pós-1964, estavam convencidas que o populismo entrara em colapso definitivo, destinado à lata do lixo da História. Mas não foi isto que ocorreu”.

O uso do termo “populismo” para designar a cultura nacional estatismo foi cunhada pelos neoliberais, udenistas, sendo espalhada por gente como FHC, que desde a década de 50 ou 60, na verdade, não passam de papagaios dos neoliberais, de disseminadores de ideias neoliberais.

Daniel Aarão continua – “Ainda sob a ditadura, o governo Geisel retomaria em grande estilo as orientações nacional-estatistas. Depois da restauração democrática, ao longo dos anos 1980 e 1990, o nacional-estatismo, defendido por várias forças de esquerda, resistiria ao vendaval do liberalismo triunfante. Sua força atual no mundo, nas Américas e no Brasil, favorecida agora pela grande crise de fins de 2008, evidencia raízes, interesses e bases sociais que é necessário menos apostrofar, e mais e melhor estudar e compreender “.

Conclusão: o que Daniel Aarão Reis chamou de nacional estatismo não passa da corrente trabalhista, popular, nacionalista, socialista democrática, democracia popular, ou seja, a corrente que eu aprecio, pois foi a corrente que gerou os países de maior IDH do mundo, os países do Norte da Europa, com 30 a 40 anos de governos socialistas (Noruega, Suécia, Finlândia, Islândia, Irlanda, e também paises como Austrália, Canadá e outros).