Dom Hélder Camara deu a linha para a Igreja no Brasil defender o nacionalismo econômico, o socialismo democrático, o trabalhismo

A ética cristã e humana exige a erradicação dos grandes monopólios privados, dos trustes e cartéis, do grande capital privado, dos latifúndios, da oligarquia, que tem seu poder no oligopólio.

A Igreja sempre apreciou o Estado, as estatais, as cooperativas, as micro, pequenas e médias propriedades familiares produtivas e úteis. 

A Igreja luta pela renda cidadã para todos, para que TODOS TENHAM PEQUENOS BENS. 

E a Igreja luta pelo subsídio agrícola, para que o campesinato tenha pleno amparo da sociedade, do Estado. Por isso, a Igreja apoia o MST, a sucursal no Brasil da Via Campesina. 

Dom Hélder seguiu os passos do padre Cícero (que elogiava, com oitenta anos, o nacionalismo de Sandino) e de Alceu Amoroso Lima.

Numa poesia (de 24.07.1966) com um elogio a Lebret, Dom Hélder escreveu: “Karl Marx, levado ao céu pela crítica ao capital e pela defesa do trabalhador” (cf. a biografia de Dom Hélder, feita por Nelson Piletti e Walter Praxedes, “Dom Hélder Câmara”, São Paulo, Ed. Ática, 1997, p. 409).

Expoentes como Dom Hélder, Dom Luciano, o abade Pierre (na França), Barbosa Lima Sobrinho, Alceu Amoroso Lima, Frei Betto, Dom Moacir Grechi e outros são a cristalização das melhores idéias do povo, da boa linha evolutiva de nosso povo e da Igreja.

Resumindo, nas palavras de Dom Hélder: “o desenvolvimento recebido do alto, pré-fabricado, sem a participação do povo na criatividade e nas opções, pode ser tudo, menos desenvolvimento”. Neste ponto, Dom Hélder tinha a mesma concepção de Paulo Freire, no livro “Pedagogia do oprimido”.

A ligação de Dom Hélder com Roger Garaudy também é outro grande sinal dos tempos, a meu ver.

A palestra feita por Dom Hélder, em outubro de 1974, na Universidade de Chicago, sobre a relação entre Santo Tomás e Karl Marx, também tem a mesma linha libertária e ecumênica, mostrando que o método de Santo Tomás era ecumênico, pois acolhia todas as verdades contidas na Paidéia, nos textos de Maimônides, Averróis e Avicena. Este método deve adotado para as verdades contidas nos textos de Marx e outros autores, como recomendava Dom Hélder.