O padre Heinrich Pesch (1854-1926), um grande padre jesuíta e economista, adotou o nome de solidarismo, para sua síntese da doutrina social da Igreja. Um nome já adotado pelo melhor do socialismo possibilista e democrático, com Renouvier, Bourgeois, Peguy, Paul Magnaud (“o bom juiz”, compassivo) e outros.
Pesch queria um sistema misto, como foi proposto por Moisés, Platão (“As leis”), Aristóteles (“Política”), os estoicos, Confúcio e outros. O padre Pesch escreveu o livro “Tratado da economia nacional” (1905 a 1923, 5 volumes), que foi a base principal da minuta da “Quadragesimo anno” (1931), de Pio XI, consagrando a economia mista (os bens que atribuem muito poder devem ser socializados, estatais ou cooperativas sob controles estatais).
Pesch queria uma síntese entre o “princípio individual” (pessoal) e o “princípio social”, do melhor da economia de mercado com o melhor das ideias socialistas (de origem cristã, pois o marxismo mesmo nasce de ideias pré-marxistas, ideias cristãs, do socialismo utópico).
A mesma síntese é a conclusão e as linhas gerais do livro “Princípios de economia política”, do padre Matteo Liberatore (1810-1892), antes de Pesch, lá por 1890. Os textos do padre Liberatore, junto com os textos do Cardeal Zigliara, foram a base da minuta da “Rerum novarum” (1891), de Leão XIII.
O padre Heinrich Pesch seguia as ideias de Rodbertus, Rudolf Meyer (amigo de Frederico Engels) e de Adolf Wagner, que, por sua vez, seguiam as ideias anteriores de Buchez.
Em todos estes autores, há a ideia de síntese entre defesa das liberdades e socialização, de planificação com liberdades, de Estado social, com democracia popular (real, participativa) e economia mista.
No fundo, são as mesmas ideias católicas. Basta pensar na condenação dos erros do jansenismo. O Papa Inocêncio X condenou os erros do jansenismo, na bula “Cum occasione”, deixando claro que a graça é dada a todos, que a graça (a ação de Deus, pelo Espírito Santo) ocorre em cooperação com a ação humana (liberdades).
O molinismo tentou uma síntese, para mostrar como a ação de Deus (e o mesmo pode ser dito do Estado, da sociedade) ocorre sem anular a liberdade, como é possível o máximo de socialização com o máximo de personalização (liberdades).
A predestinação (planos de Deus) ocorre como ajuda à ação humana (cooperação entre as pessoas e Deus, ação humana e ação divina e ação social, em boa síntese). A Comunhão não suprime a liberdade.
O Céu é a libertação, a participação das pessoas no governo do universo, com autogestão, autogoverno em boa síntese com autogestão social, com gestão participativa, democrática, pois Deus não anula a criação, e sim a plenifica.
Autonomia humana e socialização, autonomia humana, cooperação humana e ação divina, em boa síntese. Os melhores teólogos jesuítas, dominicanos, franciscanos, redentoristas defenderam esta síntese, que está no núcleo do catolicismo.
O Céu é uma República popular, democrática, Cooperativa, com gestão participativa, e assim devem ser os governos humanos, prenúncios do Céu, portas, participação em Deus.
Comunhão participativa, como bons administradores, bons pastores da Criação, bons agricultores, bons trabalhadores cooperativos na Criação.
O primado do trabalho e da destinação universal dos bens são núcleos do Céu.
A ressurreição é um processo, que inicia na vida e continua pela eternidade, como a parusia.
A parusia não é um ponto final, e sim um processo. A renovação do universo ocorre por dentro, dentro da Criação, como um parto. O novo mantém as coisas antigas e as eleva, mantém e melhora.
Da mesma forma, o equiprobabilismo de Santo Afonso de Ligório, Padroeiro dos teólogos morais e dos confessores, bem exposto pelo padre Bernard Haring (“Livres e fiéis em Cristo”), mostra a síntese entre a liberdade criativa e a ética, uma consciência ética age baseada em boas razões, pela luz da razão, da consciência (as regras éticas, a lei natural, são perfeitamente conciliadas com a liberdade humana).
Há a mesma síntese em Mounier, Thomas Merton, Alceu e também em Teilhard de Chardin e Berson.
Evolucionismo que exige a ação humana, a humanização do universo, a ação humana, o trabalho humano, continuando, em colaboração com Deus, o processo criador-renovador do universo.