As ideias cristãs fazem parte do NÚCLEO original das ideias socialistas, a parte do Trigo

“Mensagem dos bispos do Terceiro Mundo” (um documento firmado por Dom Hélder e outros bispos em 1968) é claríssima sobre o mal do capitalismo e a defesa de um modelo de socialismo democrático:

“… a Igreja, de um século para cá, tem tolerado o capitalismo com o empréstimo a juros legais e outros uso dele, pouco conformes com a moral dos Profetas e do Evangelho. Mas, ela não pode senão regozijar-se ao ver aparecer no meio dos homens outro sistema social menos distante desta moral. Caberá aos cristãos de amanhã, segundo a iniciativa de Paulo VI, reconduzir as suas verdadeiras fontes cristãs essas correntes de valores cristãos que são a solidariedade, a fraternidade (cf. “Ecclesiam Suam”). Os cristãos têm o dever de mostrar que “o verdadeiro socialismo é o cristianismo integralmente vivido, na justa repartiçaõ dos bens e a igualdade fundamental”.

“Longe de nós mostrar-nos contrários a ele; é, antes, necessário que adiramos com alegria, como a uma forma de vida melhor adaptada a nosso tempo e mais conforme com o Espírito do Evangelho” (“Cuadernos de Marcha, n. 9, janeiro de 1968. De Camilo Torres a Helder Câmara)”.

No núcleo mais profundo do movimento democrático e das correntes socialistas e comunistas há inúmeras sementes de verdade e idéias cristãs, como reconheceram Pio XI, Pio XII, João XXIII, Paulo VI e João Paulo II.

O principal é distinguir os bons elementos (os bons sinais, sementes do Verbo) e acolhendo-os, jogando fora os erros das partes más (a água suja que lavou o bebê).

Por exemplo, a Liga dos Justos nasceu cristã, inspirada nos textos cristãos de Lamennais, Sismondi, dos carbonários, de Philip Buonarotti (1761-1837), Giuzeppe Mazzini, Saint-Simon, Weitling, Ludwig Borne (1786-1837, cristão), Victor Considerant (1808-1893), Benjamin Buchez (1796-1865) e de Etienne Cabet.

A Liga defendia, antes de Marx, a “teoria da comunidade de bens”, com base no livro “Atos dos Apóstolos”, usando os textos de Santo Tomás Morus, Campanella, Mably, Morelly.

Os primeiros socialistas usavam textos do cristianismo primitivo, de São Basílio e Moisés. Esta comunidade de bens é o princípio da destinação universal dos bens e faz parte essencial da ética cristã e hebraica.

Os carbonários, por exemplo, lutavam pela democracia e também abonam a tese deste livro sobre a harmonia entre a religião e a democracia social.

A religiosidade dos carbonários fica mais do que evidente nos textos históricos da seita, nos seus ritos e na própria fórmula do juramento.

Esta religiosidade foi reconhecida inclusive no documento “Ecclesiam a Jesu Christo” (13.09.1821), onde Pio VII constata o apreço dos carbonários por Cristo, pelo cristianismo e pela Igreja.

Nos ritos e dogmas carbonários há o amor à paixão de Cristo e por outros “mistérios” religiosos. Em seus juramentos, a base é religiosa. Tinham erros teológicos, mas também bases verdadeiras.

Na França, os líderes iniciais da Carbonária foram homens religiosos como Buchez e mesmo Bazard.

Na Itália, um de seus líderes principais foi Giuseppe Mazzini, um italiano com grande religiosidade, defensor de uma democracia social e econômica, com fundamentação religiosa.

A religiosidade dos carbonários foi atestada pelo próprio Pio VII, na bula “Eccles. à Jesu-Christo”, em 1821: “eles afetam singular respeito e um zelo admirável pela religião e pela doutrina e pessoa de Jesus Cristo, a quem” chamam de “seu grão-mestre e o chefe da sua sociedade”. Usam “discursos que parecem mais suaves que o óleo”.

Neste documento, Pio VII condenou o juramento de segredo dos carbonários, com o mesmo argumento da proibição da maçonaria.

As sociedades secretas são anti-democráticas, pois fogem à luz pública do dia. Esta premissa foi adotada pelo Cardeal Salvatore Pappalardo, arcebispo de Palermo, no conflito contra a máfia, na Sicília.

O diálogo ecumênico (ecletismo racional) e aberto entre correntes de idéias contrapostas é essencial na ética cristã, como ressaltava Alceu.

Este diálogo auxilia no surgimento de uma democracia participativa. Em outros termos, auxilia no parto de uma forma boa de socialismo humanista e participativo.

Conclusão: a difusão do controle (do poder, dos bens), ou seja, a democratização (o poder do povo em todas as instâncias) da sociedade, é uma exigência cristã e natural.