A Democracia Participativa é o coração, o cérebro, a alma de um Socialismo participativo democrático e humanista

A organização da sociedade deve lembrar uma constelação ou galáxia, com milhões de estruturas participativas, para assegurar o controle pela base, O CONTROLE DO TRABALHADOR sobre os processos produtivos, os bens de produção.

A doutrina da Igreja defende o controle da sociedade organizada sobre o Estado, pois o Estado deve servir o povo, titular do bem comum.

Pio XII distinguiu entre povo e massa, destacando a importância da organização pela base (princípio da subsidiariedade, federativo, cf. os bons textos de Proudhon), para que o povo seja efetivamente sujeito da história, controlando-a.

O mecanismo mais importante para assegurar este controle democrático de base é estruturar a sociedade em milhões de estruturas intermediárias, de associações e entidades auto-geridas ou co-geridas, especialmente unidades produtivas autogeridas, pelos TRABALHADORES.

Este “plano” estava patente nos textos de Georges Renard e dos institucionalistas, que queriam transformar as grandes empresas em fundações operárias, inspirando-se nos grandes mosteiros da Igreja, como fizeram Santo Tomás Morus, Campanella, Morelly, Mably, Owen, Fourier e outros socialistas utópicos teístas.

Owen seguia o modelo de Bellers e as pegadas de grandes líderes cristãos como Johann Georg Rapp (1757-1847).

Johann Geog Rapp era cristão, apesar de alguns erros graves e foi o fundador da seita dos rappitas (“Harmony society”) e das colônias Harmonia e Nova Economia. Este autor influenciou Engels, como pode ser lido no ensaio “Descrição das colônias comunistas”, de 1845, onde Engels descreve uma série de colônias comunistas religiosas como prova da possibilidade prática do comunismo.

A religiosidade juvenil de Engels fica patente em suas cartas a Friedrich Graeber, lá por 1839, quando escrevia (em 15.06.1839):

“Comigo ocorre o mesmo que a Gutzkow: quando vejo que alguém desdenha de forma altiva o cristianismo positivo, saio em defesa desta doutrina, que responde à necessidade mais profundamente sentida da natureza humana, ao anelo de ver-nos redimidos do pecado pela graça divina; mas quando se trata de defender a liberdade da razão, protesto contra tudo o que seja coação”.

O jovem Engels já vislumbrava que a razão e a religião são complementares.Durante praticamente toda sua vida, nas cartas pessoais, inclusive a Marx, Engels às vezes faz referência a Deus e até a Cristo (“nosso amigo Cristo” que teria ensinado que devemos ser “bons como as pombas e espertos como a serpente”, ele lembra a Marx rs).

O mesmo ocorre nas cartas pessoais das filhas de Marx, até o final das vidas destas.

A religiosidade juvenil de Marx, Engels e Bakunin foi demonstrada em meu livro sobre a história do socialismo.

Estes autores, quando jovens, escreveram textos bem profundos no sentido teológico.

Os jovens Marx, Engels e Bakunin escreveram textos dignos de figurar na leitura diária das CEBs e nos textos de teologia da libertação.

Um dia, espero que uma boa editora publique uma coletânea dos textos religiosos e juvenis destes três autores, pois são textos teológicos de bom nível.

A concepção (cristã e natural, por ser racional) do controle popular sobre o Estado e sobre a economia (os bens produtivos, os processos produtivos, a organização geral da economia) é corolário (conseqüência) do princípio de subsidiariedade (tal como do bem comum, da solidariedade), que diz que a sociedade deve organizar-se de cima para baixo para que seja assegurado o bem comum.

Por isso, a DEMOCRACIA PARTICIPATIVA E POPULAR é o CORAÇÃO de um Socialismo participativo e humanista.