O “reino de Deus” significa o primado do bem comum, a Plenitude, a Presença cada vez maior de Deus, pela eternidade, movimento eterno, na verdade.
O “Reino de Deus” (o “Reino dos céus”, a Presença divina, a “Shekina”) está em nós e entre nós, devendo ser ampliado e aprofundado, “de maneira gradativa” (cf. “Quas primas”, 1925, de Pio XI), como age o FERMENTO, o movimento de um Grão de Mostarda, CRESCENDO.
A Tradição da Igreja ensina que o Universo não será destruído, será regenerado, “novos Céus e nova terra”, “Eis que faço tudo novo”, renovação eterna, movimento de melhoria eterno.
Na “Quas primas”, Pio XI destacou que a Igreja visível “simboliza” o Reino, a “subordinação das pessoas” à “lei de justiça e paz”, OU SEJA, às ideias em adequação à justiça (bem comum), a Paz (fruto da justiça, equilíbrio em movimento ascendente).
Em 1925, Pio XI instituiu a festa de Cristo Rei, para exaltar o “Reino dos céus”, do bem comum.
A expressão bíblica “Regnum Dei intra vos est” (“Reino de Deus está entre vós”, foi traduzida para o português de duas formas complementares: “o Reino de Deus está” “em nós” e “no meio” de nós, ou seja, no centro, na profundeza da consciência de cada pessoa e nas entranhas e estruturas da sociedade.
O “Reino” está em nós, no meio de todos, em todos, em germe, em crescimento, para a parusia, para a plenitude, coisa que ocorre em processo, na medida em que o Universo todo for controlado (governado) pela consciência de todos, para o bem de todos.
Frei Clodovis Boff, num capítulo do livro organizado por Fábio Régio Bento, “Cristianismo, humanismo e democracia“ (São Paulo, Ed. Paulus, 2005, pp. 96-97), resumiu as idéias cristãs sobre o poder e a política, baseadas no “Plano” de Deus.
As linhas gerais do “Reino de Deus”, da “civilização do amor”, formam as linhas do bem comum, de uma Grande República Democrática e Popular. O ideal da Igreja é o ideal da comunhão e da participação, é um ideal democrático, presente implicitamente no núcleo da teologia cristã.
O ideal histórico da Igreja é uma democracia plena, um Movimento universal guiado pelo Diálogo, em Comunhão, Libertação.
Uma democracia plena é uma democracia política, econômica (cf. Ladislau Dowbor), social, pedagógica etc, sendo este o núcleo do ideário da Igreja, como foi explicado por Alceu Amoroso Lima, Frei Betto, Plínio de Arruda Sampaio, Frei Clodovis Boff.
A mesma lição está nas encíclicas dos Papas, nos documentos do Vaticano II, nos textos dos Encontros continentais de bispos, das Conferências nacionais de bispos, das reuniões de Religiosos, dos Padres, do Movimento Fé e Política, das diversas Pastorais de leigos etc.
O “Reino de Deus” é a meta “final” (a Eternidade não tem fim, logo, fim é no sentido de direção) do universo, é a realização progressiva e eterna do bem comum, da alegria, da gala, da plenitude. Em outras palavras, é a realização processual em plenitude da natureza em geral e da natureza humana, em especial.
O bem é a realização, sempre em movimento, da natureza, cf. o conceito clássico e tradiconal da Igreja e dos estóicos. Hoje, temos apenas “o germe e o início” (cf. “Lumen gentium”, n. 9) do Reino dos Céus, que é uma construção em curso, que continuará pela eternidade, sempre tendo em vista um bem maior e mais universal. O humanismo do cristianismo está difuso em todos os textos. Pode ser visto bem claro mesmo com contos, como a “Gata borralheira” (“Cendrillon, ou la petite pantoufle de verre”).
Sobre o “Reino”, que é a Presença do Amor, na história, um Amor SEMPRE CRESCENTE, há, próximo das idéias cooperativistas e democráticas da Igreja, a concepção de Antônio Sérgio (1883-1969), que ensinava que a Democracia cooperativa seria a pré-figuração do Reino.
]Antônio Sérgio foi um grande cooperativista cristão e católico, defendendo uma síntese de socratismo com cristianismo. Esposava um humanismo idealista, de forte veio ético, um ideário bem parecido com os grandes Santos Padres da Igreja.