João Paulo II, na encíclica “Solicitude social”, em 30.12.1987, repetiu que a Igreja não concorda nem com a fórmula capitalista e nem com a estatização de todos os bens:.
“20. No Ocidente, existe de fato um sistema que se inspira fundamentalmente nos princípios do capitalismo liberal, tal como este se desenvolveu no século passado, com a industrialização;
“no Oriente, há um sistema inspirado pelo coletivismo marxista, que nasceu da interpretação da condição das classes proletárias feita à luz de uma leitura peculiar da história.
“Cada uma das duas ideologias, referindo-se a duas visões tão diferentes do homem, da sua liberdade e do seu papel social, propôs e promoveu, no plano econômico, formas contrárias de organização do trabalho e de estruturas da propriedade, especialmente pelo que se refere aos chamados meios de produção.
21. Está nisto uma das razões por que a doutrina social da Igreja adota uma atitude crítica, quer em relação ao capitalismo liberal, quer em relação ao coletivismo marxista.
“Com efeito, sob o ponto de vista do desenvolvimento surge espontaneamente a pergunta: de que maneira ou em que medida estes dois sistemas são susceptíveis de transformações e de atualizações, de molde a favorecerem ou promoverem um verdadeiro e integral desenvolvimento do homem e dos povos, na sociedade contemporânea? Estas transformações e estas atualizações, de facto, são urgentes e indispensáveis para a causa de um desenvolvimento comum a todos”.
A Igreja então propõe reformas (alterações, transformações, atualizações) nos “dois sistemas”, para promover o “desenvolvimento do ser humano e dos povos”.
Dentre estas reformas, há uma vasta intervenção estatal na economia nos países capitalistas e, nos países então comunistas, o estabelecimento da micro e pequena produção (“iniciativa econômica”), ou seja, nos dois sistemas contrários, a Igreja propõs o mesmo remédio: ECONOMIA MISTA.
A Igreja propôs, novamente, um sistema econômico misto, parte estatal e parte privado (micros e pequenos produtores).
A mesma fórmula do socialismo católico no século XIX, repetida por Leão XIII, Pio XI, Pio XII, João XXIII, Paulo VI, João Paulo II e Francisco I.
Além disso, nesta encíclica, houve a renovação da condenação do imperialismo, do neocolonialismo e do mecanismo da dívida externa.
Houve também a condenação da exportação de matérias primas e a exigência de INDUSTRIALIZAÇÃO das matérias primas, nos países que têm estas matérias primas. Por isso, a encíclica considerou como POSITIVO o fato que:
“alguns países do Terceiro Mundo, não obstante o peso de numerosos condicionamentos negativos, conseguiram alcançar uma certa autossuficiência alimentar, ou um grau de industrialização que lhes permite sobreviver dignamente e assegurar fontes de trabalho à população ativa”.
A Igreja frisou a importância da defesa do meio ambiente também:
“Entre os sinais positivos do tempo presente é preciso registrar, ainda, uma maior consciência dos limites dos recursos disponíveis e da necessidade de respeitar a integridade e os ritmos da natureza e de os ter em conta na programação do desenvolvimento, em vez de os sacrificar a certas concepções demagógicas do mesmo. E’, afinal, aquilo a que se chama hoje preocupação ecológica.
É justo reconhecer, também, da parte de homens de governo, políticos, economistas, sindicalistas, personalidades da ciência e funcionários internacionais — muitos dos quais se inspiram na fé religiosa — o empenho em remediar generosamente, com não poucos sacrifícios pessoais, os males do mundo; e em lançar mão de todos os meios, para que um número cada vez maior de homens e mulheres possa usufruir do benefício da paz e de uma qualidade de vida digna deste nome.
Para isto contribuem, em não pequena medida, as grandes Organizações internacionais e algumas Organizações regionais, cujos esforços conjugados permitem intervenções mais eficazes.
Foi também graças a estas contribuições que alguns países do Terceiro Mundo, não obstante o peso de numerosos condicionamentos negativos, conseguiram alcançar uma certa autossuficiência alimentar, ou um grau de industrialização que lhes permite sobreviver dignamente e assegurar fontes de trabalho à população ativa”.
No parágrafo 15 da encíclica, fica claro que a Doutrina da Igreja defende o máximo de “espírito de iniciativa, isto é, a subjetividade criadora do cidadão”. Defende o máximo de “iniciativa criadora”, e NUNCA
“a passividade, a dependência e a submissão ao aparato burocrático que, como único órgão «disponente» e «decisional» — se não mesmo «possessor» — da totalidade dos bens e dos meios de produção, faz com que todos fiquem numa posição de dependência quase absoluta, que é semelhante à tradicional dependência do operário-proletário do capitalismo”.
Cada pessoa deve ter um conjunto de bens, direitos, uma esfera de proteção jurídica (cf. Pio XII).
O Estado deve apoiar (subsidiar é ajudar, apoiar) cada pessoa, em seus projetos, independentes, mas vinculados ao bem comum.
A Doutrina da Igreja NÃO aprecia dependência, nem perante patrões, empresas privadas, como no “capitalismo”, e nem perante o Estado, pois dependência gera
“um sentimento de frustração ou desespero e predispõe para o desinteresse pela vida nacional, impelindo muitas pessoas para a emigração e favorecendo em todo o caso uma espécie de emigração «psicológica».
Cada pessoa, cada família, cada bairro, cada cidade, cada região, da país, cada continente, devem ter sua “SUBJETIVIDADE”, CAPACIDADE DE SER SUJEITO, “soberania” no caso dos países, mesmo dentro de uma Federação ou Confederação Mundial, e AUTONOMIA dentro destas esferas maiores.
A SUBJETIVIDADE deve existir no “sentido econômico e político-social”, e na esfera “cultural”.
A Igreja defende Democracia econômica, política, social, cultural. ECONOMIA MISTA, VASTO ESTADO SOCIAL E ECONÔMICO, DEMOCRACIA POPULAR PARTICIPATIVA, DISTRIBUTISMO (todos devem ter os bens suficientes para uma vida plena, abundante, simples e feliz).
Nenhuma pessoa deve ser reduzida a OBJETO, REIFICADA (reificar é reduzir a coisa, “res”, em latim).
Cada pessoa deve ser AJUDADA (Princípio da subsidiariedade) pelo ESTADO e pelas demais esferas, e NUNCA PISADA, OPRIMIDA, ESQUECIDA, MARGINALIZADA, SUGADA, ESCRAVIZADA, tratada como “coisa” ou “lixo”.