Destinação universal dos bens, trabalho como causa eficiente da produção e princípio a cada um de acordo com suas necessidades, pontos que Marx colheu na Tradição Católica

H. Delalys escreveu o livro “La valeur d’après Karl Marx et les Scolastiques” (Ponthièvre, Lille, 1899), onde, segundo o padre Henri Chambre (no livro “De Marx a Mao Tse Tung”, da editora Duas Cidades, São Paulo, 1963, tradução do padre Fernando Bastos de Ávila, p. 111), “tentou provar” a compatibilidade entre a noção de preços e valores em Marx e a concepção escolástica do justo preço.

Chambre, na obra referida, mostrou que Marx examinou os textos de Aristóteles sobre o valor de uso (nos livros “Política”, livro I, capítulo 9; e “Ética a Nicômaco”, Livro V, capítulo 5).

Marx, no entanto, citou de forma errada o texto de Aristóteles contido na “Ética a Nicômaco”(Livro V, capítulo 5), pois Aristóteles escreveu:

… é necessário, portanto, que todas as coisas sejam medidas por um elemento único, como já se disse. E, na verdade, a necessidade é este elemento que tudo reúne. Mas, por convenção humana, a moeda tornou-se intermediária da necessidade. (…) É, na verdade, impossível encontrar uma comensurabilidade entre coisas tão diferentes, mas, uma vez que nos colocamos no ponto de vista da necessidade, podemos fazê-lo de maneira suficiente”.

Aristóteles tinha razão ao colocar a necessidade como a base fundamental (para a disposição, a atribuição, a titularidade dos bens, para o controle, enfim) e dizer que outros elementos da economia (como a moeda e os outros institutos), são meras convenções (formas de consenso), que podem ser alteradas, pois são formas jurídicas passíveis de inúmeras alterações. Estes pontos foram aceitos pela Doutrina social da Igreja e são essenciais. 

Suarez desenvolveu estes pontos em obras onde diz que Deus deu o poder e os bens para a sociedade, cabendo a esta regulamentar e dispor mediante formas jurídicas, estando estas vinculadas ao bem comum, a destinação universal dos bens.

Marx, no entanto, mesmo citando errado, acertou ao apontar o trabalho como a causa eficiente da produção (daí, o primado do trabalho, como foi bem explicado por Maritain e mesmo João Paulo II, na “Laborem exercens”).

E também acertou ao dizer que o princípio bíblico “a cada um de acordo com suas necessidades” deve ser a lei fundamental de um modo de produção justo, ou seja, que os bens devem atender às necessidades de todos.