A doutrina social da Igreja sempre defendeu relações de produção e distribuição com base no controle pessoal do trabalho sobre os bens produtivos e no controle social sobre a gestão destes bens.
Economia mista, com o máximo de autogestão junto, em síntese, com o máximo de autogestão social.
Em outros termos, a consciência, a razão, os direitos humanos e o bem comum são os grandes critérios da legitimidade do poder (das estruturas estatais) e das estruturas da economia (de cada unidade de produção e da organização geral da produção).
A adequação do poder e das estruturas produtivas econômicas a estes critérios é o que torna o poder e a organização geral e de base da economia algo bom.
A melhor forma para que o poder (o mesmo vale para a produção de bens) seja estruturado por estes critérios é estruturar o poder de forma participativa, assegurando a participação de todos no poder, tanto no poder macro-cósmico do Estado quanto nos poderes microscópicos, para usar a terminologia de Foucauld.
Os textos de expoentes como o Cardeal Bispo Pedro Pavan, Oswald Nell-Breuning, Maritain, Alceu, John A. Ryan e Heinrich Pesch (1854-1926) defendem, assim, a DEMOCRACIA ECONÔMICA E A DEMOCRACIA POLÍTICA PARTICIPATIVA.
Pesch seguia Adolf Wagner, Theodor Meyer, Karl von Vogelsang e Haffner (sucessor de Ketteler).
Estes textos ampliam os textos de Buchez, Ketteler, Ozanam, Rosmini, César Cantu (1804-1895), Mermillod, Decurtins, Rudolph Meyer (amigo de Engels), Toniolo e outros grandes escritores.
Outro bom exemplo da doutrina da Igreja e do ideal de uma democracia cooperativa e social é a Cooperativa de Mondragón, criada sob as luzes do padre José Arrizmendiarrieta (ou Arizmendi), um bom exemplo sempre elogiado pelo padre jesuíta, do Brasil (RS), padre Odelson Schneider.
Mondragón é a prova que o capital (a estrutura jurídica e econômica da concentração privada de bens, pautada pelo direito quiritário de propriedade) pode ser erradicado (eliminado e ainda por cima proibido).
A grande empresa industrial pode ser organizada toda na forma de cooperativas e estatais com co-gestão, eliminando a grande burguesia, como classe social (restaria a pequena burguesia, unida aos trabalhadores e aos camponeses).
Da mesma forma, o latifúndio pode ser erradicado, sendo substituído por propriedades campesinas familiares associadas em cooperativas e sujeitas ao planejamento público participativo, tal como o apoio do Estado (subsídio agrícola, como João XXIII preconizava, na “Mater et Magistra”, em 1961).
O programa social de Albert de Mun, exposto no discurso de Saint-Etienne (18.12.1892) é um programa de democracia social e popular e teve a aprovação inclusive de Leão XIII, em carta a Mun, de 07.02.1893.
Os primeiros livros socialistas, no Brasil, foram de católicos e os primeiros programas de partidos socialistas tinham mais ou menos a mesma base reformista do programa de Albert de Mun.
A receita de uma democracia econômica, social e popular também consta no receituário de autores católicos, como Charles Péguy, Llovera, Francesco Olgiatti (expoente da Escola neotomista de Milão), Guido Gonella, Brucculeri, Mounier, De Gaulle, Aldo Moro e outros.
Estes textos também esboçam e respaldam as linhas gerais de uma democracia econômica, social, popular, participativa e dos trabalhadores, como “ideal histórico atual”.