“Justiça” são REGRAS PRÁTICAS para proteger, conservar e aumentar o bem comum, no processo histórico

Santo Tomás definiu a virtude cardeal (virtudes cardeais principais são a prudência-sabedoria prática, justiça, fortaleza e temperança-autocontrole) da justiça: “a justiça” é a “virtude geral” (as regras), “que ordena” os atos humanos “ao bem comum”, “pelo império que exerce, já que dirige todos os atos das [outras virtudes, condutas] a seu fim, quer dizer, ao bem comum” (cf. “Suma Theologia”, 1-2, q. 60, a 3 ad. 2).

A mesma ideia, expressa por Pio XI, na “Divini Redemptoris” (n. 51): “além da justiça comutativa, há principalmente a justiça social que impõem também deveres”, onde Pio XI repete uma linda e maravilhosa comparação da sociedade com um organismo, analogia (metáfora) biológica.

Escreveu Pio XI, na “Divini”:

é precisamente próprio da justiça social exigir dos indivíduos quanto é necessário ao bem comum.

“Mas, assim como no organismo vivo não se provê ao todo, se não se dá a cada parte e a cada membro tudo quanto necessitam para exercer as suas funções; assim também se não pode prover ao organismo social e ao bem de toda a sociedade, se não se dá a cada parte e a cada membro, isto é, aos homens dotados da dignidade de pessoa, tudo quanto necessitam para desempenhar suas funções sociais.

O cumprimento dos deveres da justiça social terá como fruto uma intensa atividade de toda vida econômica (…) assim [como] a saúde do corpo social, do mesmo modo que a saúde do corpo humano se reconhece pela atividade inalterada, e ao mesmo tempo plena e frutuosa, de todo o organismo”.

Pio XI concluía (n. 52) que “todos” e “cada um” devem ter “os bens”, “em quantidade” para “satisfazer às necessidades e honestas comodidades, como para elevar os homens àquela condição de vida mais feliz, que, conquistada e usufruída de modo razoável e prudente, não é de obstáculo à virtude, mas até a favorece poderosamente” (cf. “Divini” e “Quadragesimo Anno”, de 15.05.1931).

O princípio da destinação universal dos bens está claro nos textos de Leão XIII e de seus sucessores e foi destes textos que o padre Porfírio Miranda retirou parte significativa de sua inspiração, para obras como “Marx e a Bíblia”, obra elogiada pelo jornal “Granma” (entrevista com o prof. Dávalos), de Cuba.

Da mesma forma que a justiça é o conjunto de regras racionais que visa proteger e promover o bem comum, o mesmo ocorre com o amor.

Amor (caridade, a maior das virtudes teológicas, a maior de todas) é querer o bem do outro e ser justo é dirigir todos os atos conscientes ao bem comum. O “outro” é o “próximo” e, no sentido bíblico, equivale a todas as pessoas.

Como explicou Emmanuel Lèvinas (cf. a exposição de René Bucks OCD, no livro “A Bíblia e a ética”, São Paulo, Ed. Loyola, 1997, p. 48): o judaísmo, o pensamento bíblico, logo especialmente o católico, proíbe a idolatria e ensina que “nada é superior à aproximação do próximo”, especialmente o oprimido (“a viúva, o órfão, o estrangeiro, o pobre”) e “nenhuma aproximação de mãos vazias é proximidade”.