Como disse João Paulo II, na “Carta aos artistas” (04.04.1999), “o artífice” (artesão, artista) cria, utilizando “algo já existente, a que dá forma, estrutura, significado, como que cristalizando uma idéia, moldando um idéia, tal como temos que moldar nossas vidas e nosso destino.
Este modo de agir é peculiar do homem enquanto imagem de Deus”, pois, nos termos de João Paulo II:
“na criação artística, mais do que em qualquer outra atividade, o homem revela-se como imagem de Deus, e realiza aquela tarefa, em primeiro lugar, plasmando a matéria estupenda da sua humanidade e depois exercendo um domínio criativo sobre o universo que o circunda. Com amorosa condescendência, o Artista divino transmite uma centelha da sua sabedoria transcendente ao artista humano, chamando-o a partilhar do seu poder criador”.
Nesta carta, João Paulo II elogia o humanismo e o renascimento (basta pensar em Michelângelo, Rafael, Leonardo da Vinci e outros), movimentos com ampla matriz católica.
João Paulo II termina este documento chamando o Espírito Santo de “misterioso artista do universo”, cuja ação ocorre pela inspiração, atuando através da consciência humana, por obra da razão, que é iluminada e fortalecida.
O papa faz votos para “que todos os artistas [o mesmo vale para os TRABALHADORES] possam receber em abundância o dom daquelas inspirações criativas de onde tem início toda autêntica obra de arte”.
Diz, ainda, que “presidindo às misteriosas leis que governam o universo, o sopro divino do Espírito Criador vem ao encontro (coopera, atua por dentro da natureza) do gênio do homem e estimula a sua capacidade criadora”.
A ação divina ocorre em colaboração (cooperação, por dentro, pelo “interior”) de Deus com as forças naturais:
“Abençoa-o com uma espécie de iluminação interior, que junta a indicação do bem à do belo, e acorda nele as energias da mente e do coração, tornando-o apto para conceber a idéia e dar-lhe forma na obra de arte. Fala-se, então, justamente, embora de forma analógica, de momentos de graça, porque o ser humano tem a possibilidade de fazer certa experiência do Absoluto que o transcende”.
Os textos de Marx sobre economia e artes mostra a influência de Aristóteles. De fato, as idéias de Aristóteles formam a melhor parte do pensamento hegeliano e também do próprio Marx. Por isso, Marx, no livro I de “O capital”, proclamou Aristóteles como o principal pensador da antiguidade e fez este elogio Expresso no livro “O Capital”.
A natureza tem leis objetivas, que são desvendadas por conceitos, por idéias e este desvendamento é justamente o processo da verdade, da formulação de idéias conformes com a realidade. Com estas idéias, as pessoas imprimem o selo humano à natureza, imprimem formas, idéias (cristalizando-as, materializando-as, concretizando-as), organizam a natureza, dão continuidade ao processo criador. Nas palavras de Pio XII:
“o trabalho… é formoso e nobre, porque prossegue, enquanto produz, o trabalho iniciado pelo Criador e constitui a generosa contribuição de cada um ao bem comum”.
Isto ocorre na construção do Estado, na arte, na ciência, no trabalho, na cultura, na política, no direito, nas relações humanas, na educação física e inclusive na medicina.
Logo, a ação construtiva humana ocorre tanto nos campos (na agricultura) quanto na arquitetura, na indústria, nas ciências, na literatura, na música e também nas estruturas políticas e jurídicas, na construção do Estado, das estruturas estatais.
Mesmo no amor, nos namoros, no casamento, na vida familiar, na criação dos filhos, na manutenção das relações afetivas e de cooperação entre os cônjuges e nas relações familiares há sempre formas de trabalho humano, tudo feito à luz natural da razão.
Resumidamente: há o dado e o construído e o construído (a camada da noosfera) ocorre tanto nos processos industriais de transformação da natureza quanto nas festas, na construção de pessoas jurídicas (artificiais), na construção do Estado etc.
Em todas estas atividades, há formas de organização da ação humana e estas formas devem ser racionais, consensuais e benéficas para os participantes, para todos.