O ideal católico de um vasto Estado social econômico, protetor, de ajuda

Paulo VI, na “Octogesima adveniens” (n. 45, em 1971), também destacava, como um dos grandes ideais históricos de nossa época, a aspiração, “hoje em dia”, das pessoas, de “libertar-se da necessidade e da dependência”.

Nesta encíclica, sobre “o poder político”, o Estado, foi dito: “este poder, que constitui o vínculo natural e necessário para garantir a coesão do corpo social, deve ter como finalidade a realização do bem comum” e “o objetivo de toda a intervenção, em matéria social, é ajudar os membros do corpo social; e não destrui-los ou absorvê-los” (texto de Pio XI, João XXIII e do Vaticano II, reiterado por Paulo VI).

Cada pessoa deve ter os bens suficientes e necessários para uma vida plena, para poder participar intensamente da vida social, maximizando o bem comum, graças à participação de cada pessoa na elaboração dos planos comuns, nos processos decisórios.

Como ensinava até mesmo Carlos Périn (1815-1905), no livro “Leis da sociedade cristã”, a sociedade deve ser estruturada para tornar “melhores” “as condições” de vida, abolindo a miséria e também a posse de bens que atribuam poderes excessivos a particulares.

Na “Octogésima”, Paulo VI destacou a importância do “bem da cidade, da nação e da humanidade”. Todas as pessoas devem ter participação na vida pública, social e política porque todos são responsáveis pelo bem comum. A “política é uma maneira exigente” de “viver o compromisso cristão, a serviço dos outros”, é uma atividade de caridade, de amor, de busca do bem comum.

Paulo VI destacou a “autonomia da realidade política” e o “pluralismo”. A conclusão deste papa partia da premissa da socialização, o aumento da intervenção estatal na sociedade, com o crescimento da burocracia:

… esses obstáculos não devem reprimir uma difusão maior na participação, ao elaborar as decisões, na sua escolha e ao pô-las em prática. Para contrabalançar uma tecnocracia crescente, torna-se necessário criar formas de democracia moderna, que não somente proporcione a cada homem a possibilidade de informar-se e de exprimir-se, mas também que o leve a comprometer-se numa responsabilidade comum”.

“Deste modo, os grupos humanos se transformarão, pouco a pouco, em comunidades de partilha e de vida”.

O ideal da doutrina social da Igreja, de uma democracia popular econômica (um vasto Estado social econômico) participativa, comunitária e social, econômica, exige que todas as estruturas e grupos humanos devem ser “comunidades de partilha e de vida”, formas de comunhão, especialmente as estruturas públicas, as unidades produtivas, as escolas, hospitais e até as prisões, que devem ter gestões humanistas, participativas (como ensinam os membros da Pastoral Carcerária).

As próprias penitenciárias devem ser abolidas, substituídas por prisões abertas e semi-abertas, centros de recuperação, de educação, profissionalização, apoio e amparo, para regeneração dos presos, e não para o sofrimento.