Otto Maria Carpeaux, grande judeu e grande católico austríaco-brasileiro, socialista democrático

O Brasil teve um grande crítico literário, autor de ótima obra sobre a história da literatura mundial. Trata-se de Otto Maria Carpeaux, um grande judeu e um grande católico socialista.

Em 1966, Otto Maria Carpeaux, no jornal “Correio da Manhã”, escreve o texto “Socialismo e democracia”.

Neste artigo Otto Maria Carpeaux lembra que na Holanda, perto de 1966, tinha sido formado um novo ministério, presidido pelo deputado católico Cals, achando-se as mais importantes pastas confiadas a membros do partido socialista democrático.

Otto elogiava, como eu vivo fazendo, os governos socialistas democráticos da Dinamarca, da Suécia e da Noruega e lembra que, na sua Áustria nativa, existiam governos coligados entre católicos e socialistas, mesmo antes da Segunda Guerra, continuando por décadas a coligação entre católicos e socialistas democráticos. 

Também lembra que as mesmas coligações existiram na Alemanha Ocidental, entre católicos e os socialistas democráticos. 

E que os católicos, na Inglaterra e na Austrália (maioria católica) votam em partidos trabalhistas, que são socialistas democráticos.

Otto Maria Carpeaux, em 1966, lembrava o mesmo ponto de Alceu, que “a imensa maioria da humanidade atual acredita que o futuro pertence, deste ou daquele modo, ao socialismo”.

O último livro de Carpeaux, foi uma biografia de Alceu Amoroso Lima, em 1978, mostrando como seu pensamento tinha sólida ligação com Alceu, esposando o socialismo democrático.

Eram católicos e socialistas, estrelas como Pontes de Miranda, Santiago Dantas, Alberto Pasqualini, Domingos Velasco, Paulo de Tarso Santos, Plínio de Arruda Sampaio, João Goulart, Luiz Pinto Ferreira, Getúlio (nos seus discursos de campanha, Getúlio, já em 1950, dizia que o trabalhismo brasileiro era a antecâmara do socialismo cristão democrático, no Brasil) e outros.

 Vejamos a biografia resumida de Otto Maria Carpeaux, com base no Wikipedia.

“Otto Maria Carpeaux nasceu em 9 de março de 1900, em Viena, capital do Império Austro-Húngaro, filho único[3] do advogado[4] e funcionário público[5][6][7] judeu Max Karpfen (Viena, 20 de novembro de 1869 – Viena, 24 de novembro de 1931)[8][9] e da polonesa Gisela Karpfen (Cracóvia, 24 de abril de 1880[8][10]Włodawa, maio-outubro de 1942[11]), do lar e católica, nascida Gisela Schmelz[8][10]. “O ambiente em que vivia a família”, relata Renard Perez, “era burguês sem riqueza”.[4] Ainda segundo Perez, Carpeaux fez os primeiros estudos em Viena, “mas esse período de sua vida se encontra quase totalmente esquecido e daria trabalho para um psicanalista a tentativa de sua reconstituição. Também o ginásio (8 anos) foi feito em Viena”.[4]

“Por desejo do pai, iniciou em 1918[12] o curso de Direito, mas o abandonou um ano depois, por não sentir a vocação.[4] Por volta de 1922[13] até 1925 estudou na Faculdade de Filosofia da Universidade de Viena, frequentando cursos de Filosofia e Química e graduando-se em Química em 29 de junho de 1925, obtendo o título de Doutor em Filosofia com a tese Über die Hypohirnsäure, ein neues Triaminomonophosphorsulfadit aus Menschenhirn[14], publicada em 1926 na revista Biochemische Zeitschrift[15]. Embora não seguisse a profissão[3], continuou na Universidade de Viena de 1925 a 1927, exercendo o cargo de assistente da Faculdade de Filosofia.[15][16]

Num período ainda não esclarecido (antes de 1922 ou depois de 1927), Carpeaux ainda teria estudado na Faculdade de Filosofia da Universidade de Leipzig[15], bem como Literatura Comparada na Faculdade de Filosofia da Universidade de Nápoles[15][17] e Sociologia e Política na Escola Superior de Política de Berlim (Hochschule für Politik)[18].

De 1927 a 1929, segundo registros da Fundação Getúlio Vargas[15], Carpeaux teria percorrido a Europa, especializando-se em universidades e atuando, a partir de 1928, como correspondente de jornais vienenses, em Paris, Londres, Roma e Amsterdã. Em 1927 ou 1928, teria se formado na Haute École des Sciences Politiques, de Paris; em 1928 na Faculté de Lettres de Genebra. Entre 1928 e 1929, conforme revela Homero Senna, “teria trabalhado em Berlim redigindo roteiro para o cinema mudo”[19], atividade a que Carpeaux se referiu em um pronunciamento, em 15 de julho de 1942, no Rio, durante um “debate sobre cinema silencioso e sonoro”.[20]

De volta a Viena, casou-se em 22 de fevereiro de 1930, na Sinagoga Hietzinger,[21] com a cantora Hélene Silberherz (Otynia, 18 de setembro de 1899[22]Rio de Janeiro, c. 1988[23]) “que ele já conhecia há anos”, informa Renard Perez, e no ano seguinte “morre-lhe o pai”.[4] Meses antes, em 1931, teria começado a escrever ensaios e resenhas literárias e musicais para alguns periódicos, como a revista Die Literatur[24] (Stuttgart), o jornal Neue Freie Presse[25] (Viena), a revista Der Querschnitt[26] (Berlim) e, de 1931 a 1934, a revista musical Signale für die musikalische Welt[27] (Berlim).

Em 18 de abril de 1933 renuncia formalmente ao judaísmo[28] e se converte ao catolicismo, motivo por que ora acrescenta “Maria”, ora substitui “Karpfen” por “Maris Fidelis”, ao seu nome, este até 1935. Ainda em 1933 é nomeado diretor da Biblioteca de Ciências Econômicas e Sociais de Viena, cargo exercido até 1938[15]. De 1934 a 1938, torna-se segundo redator-chefe do jornal Reichspost, o “maior jornal católico da Áustria”, onde, durante longo tempo, escreveu “os artigos de fundo políticos e econômicos”, como revelou em carta a Alceu Amoroso Lima.[16]

Também neste período (1934-1938), foi diretor e redator-chefe da revista Berichte zur Kultur und Zeitgeschichte[15], periódico oficial da Ação Católica na Áustria[16], fundado pelo amigo Nikolaus Hovorka (19001966) e por Viktor Matejka. Hovorka também adquirira a Editora Reinhold, provavelmente em 1934, onde se editaram a citada revista e, entre outros, dois livros de Carpeaux e um de Engelbert Dollfuss[29]. Foi por meio de Hovorka que conheceu o fundador do jornal católico Der Christliche Ständestaat (Viena) Dietrich von Hildebrand (1889-1977), teólogo e filósofo católico cuja “oposição a Hitler e ao nazismo”, afirma um projeto dedicado a ele, “foi tão sincera que foi forçado a fugir da Alemanha em 1933”.[30] Nas memórias de Hildebrand, publicadas recentemente em My battle against Hitler (2014), Carpeaux é descrito como “amigo e colaborador” de Hovorka. “Karpfen”, prossegue, “era um judeu convertido. Hovorka recomendou-mo como colaborador do Ständestaat. Karpfen era muito talentoso e, desde então, escreveu frequentemente em nosso jornal”.[31]

Por esta época, Carpeaux tornou-se homem de confiança dos primeiros-ministros Engelbert Dollfuss e Kurt Schuschnigg, últimos antes da anexação da Áustria pelo Reich alemão. Com a queda do Reich, Karpfen e Hélene foram obrigados a seguir para o exílio, durante o qual Otto deixou a mãe para trás[32][4] e levou consigo apenas um missal[33].

Em princípios de 1938, foge para Antuérpia, na (Bélgica), onde trabalha como jornalista na Gazet van Antwerpen, maior jornal belga de língua holandesa.

No Brasil

Diante da escalada nazista, Carpeaux sente-se inseguro e foge com a mulher, em fins de 1939, para o Brasil. Durante a viagem de navio, estoura a II Guerra. Recusando qualquer ligação com o que estava acontecendo no Reich, muda seu sobrenome germânico Karpfen para o francês Carpeaux.

Ao desembarcar, nada conhecia da literatura brasileira, nada sabia do idioma e não tinha conhecidos. Na condição de imigrante, foi enviado para uma fazenda no Paraná, designado para o trabalho no campo. O cosmopolita e erudito Carpeaux ruma para São Paulo. Inicialmente passa dificuldades; sem trabalho, sobrevive à custa da venda de seus próprios pertences, inclusive livros e obras de arte. Poliglota, o homem que já sabia inglês, francês, italiano, alemão, espanhol, flamengo, catalão, galego, provençal, latim e servo-croata, em um ano aprendeu e dominou o português, com muita facilidade devido ao conhecimento do latim e de outras línguas dele derivadas.

Em 1940, tentou ingressar no jornalismo nacional, mas não consegue. Então escreve uma carta a Álvaro Lins a respeito de um artigo sobre Eça de Queiróz. A resposta veio em forma de convite, em 1941, para escrever um artigo literário para o Correio da Manhã, do Rio de Janeiro. Seu artigo é publicado, iniciando uma publicação regular.

Até 1942, Carpeaux escrevia os artigos em francês, que eram publicados em tradução. Mostrando sua grande inteligência e erudição, divulgou autores estrangeiros pouco ou mal conhecidos entre o público brasileiro, desenvolvendo-se um grande crítico literário. Nesse mesmo ano, Otto Maria Carpeaux naturalizou-se brasileiro. Ainda em 1942, publica o livro de ensaios Cinzas do Purgatório.

Entre 1942 e 1944 Carpeaux foi diretor da Biblioteca da Faculdade Nacional de Filosofia. Em 1943, publica Origens e Fins.

De 1944 a 1949 foi diretor da Biblioteca da Fundação Getúlio Vargas. Em 1947 publica sua monumental História da Literatura Ocidental – o mais importante livro do gênero em língua portuguesa – no qual analisa a obra de mais de oito mil escritores, partindo de Homero até mestres modernistas, neste caso sendo o estudo de sua predileção. Em 1950, torna-se redator-editor do Correio da Manhã. Em 1951, publica Pequena Bibliografia Crítica da Literatura Brasileira, obra singular na literatura nacional – reunindo, em ordem cronológica, mais de 170 autores de acordo com suas correntes, da literatura colonial até nossos dias. Sua produção crítica literária é intensa, escrevendo em jornais semanalmente.

Em 1953, publicou Respostas e Perguntas e Retratos e Leituras. Em 1958, publicou Presenças, e em 1960, Livros na Mesa.

Carpeaux foi forte opositor do Regime Militar, redigindo artigos acerca da retrógrada autoridade da então nova ordem militar, participando de debates e eventos políticos. Nesse período foi também, ao lado de Antônio Houaiss, coeditor da Grande Enciclopédia Delta-Larousse[34].

Em 3 de fevereiro de 1978, morre no Rio de Janeiro de ataque cardíaco.