O ideal católico de uma Democracia Popular, socialista, econômica, na esfera da economia, política e cultural

A democracia popular, social e participativa é o “ideal histórico” de nossa época, nos termos de Alceu e Dom Hélder

O ideal de uma democracia popular, social, na esfera política e econômica (e cultural), está presente nos textos dos maiores expoentes do catolicismo, no Brasil.

Por exemplo: Alceu Amoroso Lima, Dom Hélder, Dom Moacir Grecchi, Dom Pedro Casaldáliga, Olavo Bilac, Rui Barbosa, Antônio Houaiss, Sabóia Lima, Barbosa Lima Sobrinho, Celso Antônio Bandeira de Mello, Pontes de Miranda (socialista democrático e católico, no final da vida), San Thiago Dantas, Sérgio Buarque de Holanda, Lysaneas Maciel (protestante), Marcos Freire, Miguel Arraes, Alceu Amoroso Lima, Luiz Ignácio de Maranhão Filho (unindo catolicismo e marxismo), Roberto Lyra, Roberto Lyra Filho, Goffredo da Silva Telles, Tancredo Neves, Ariano Suassuna e Cândido Portinari (1903-1962).

Há a mesma linha católica, eclética, ecumênica e religiosa, nos textos de Antônio Cândido, Otto Maria Carpeaux, Monteiro Lobato (teísta), Agripino Grieco, Ronald de Carvalho, Augusto de Lima (ver “São Francisco de Assis”, 1930), Jorge de Lima, Osvaldo Euclides de Sousa Aranha, José Geraldo Bezerra de Menezes, Celso Furtado, Alencar Furtado, Freitas Nobre (socialista com fundamentação religiosa, espírita), Paes de Andrade, Teotônio Vilela, Brizola, Darcy Ribeiro (no final da vida, aproximou-se do cristianismo pelas mãos de Leonardo Boff) e outros.

Os textos de Luiz Veríssimo, filho de Érico, também esposam uma forma de socialismo, próxima do socialismo de João Mangabeira (1880-1964), Francisco Mangabeira e de outros luminares, inclusive Pagu e Oswald de Andrade (ambos, em suas últimas obras, defenderam o socialismo democrático, e Oswald de Andrade elogiava Alceu, pelas mesmas ideias).

Outra grande figura foi Modesto da Silveira, que foi congregado mariano, no início da vida e sempre permaneceu humanista e socialista.

Até mesmo Gustavo Corção (1896-1978), apesar de seus erros políticos graves e de sua conivência com a ditadura militar de 64, tinha, como ideal, uma democracia verdadeira, com base distributista, como pode ser visto na reportagem sobre sua morte, na revista “Veja” (12.07.1978, p. 78). Seu ideal era, em suas próprias palavras, um “regime” político baseado na “máxima participação pela forma representativa”.

Cada pessoa deve ser livre, autodeterminando-se, agindo de acordo com sua própria consciência.

Como ensinava o padre Baltasar Gracián, no livro “A arte da prudência” (São Paulo, Ed. Martin Claret, 2002), “tornar-se uma verdadeira pessoa constitui a maior perfeição de todas”.

Toda pessoa deve ser livre, senhora de si mesma, dirigindo-se pelos ditames (regras, idéias práticas) da própria consciência, sendo esta a base da ética cristã (cf. São Paulo, Häring, Marciano Vidal e outros). Pois bem; a mesma regra vale para as sociedades, pois estas carregam, em suas entranhas, as estruturas da pessoa humana e as próprias pessoas.

Como ensinaram e ensinam Dom Pedro Casaldáliga ou o padre Joseph Comblin: “somos ao mesmo tempo estruturantes e estruturados”.

As sociedades devem ser regidas pela consciência ética social, formada pelo diálogo entre as pessoas em busca do bem comum, que une as consciências pessoais.

As linhas gerais do ordenamento jurídico positivo, do Estado, das estruturas e unidades produtivas e a gestão do patrimônio devem ser pautadas pela consciência da sociedade, que tem, no núcleo, uma base racional, voltada, intrinsecamente, ao bem comum.

Esta é a tese fundamental do jusnaturalismo, sendo também o núcleo do ideário democrático-social e popular.

O cerne destas idéias está bem claro nos principais teólogos (especializados em ética) da Igreja, por exemplo, nos textos do padre Karl Rahner, em Marciano Vidal e Bernhard Häring (vide “A lei de Cristo” e também na “Livres e fiéis em Cristo”, duas magníficas obras).