Toda a ética cristã tende ao bem comum, a um amplo Estado social e econômico, Democracia participativa etc

Os princípios fundamentais da ética social e política cristã, numa síntese de Bento XIV, que mostra como as ideias principais do Cristianismo conduzem a uma Democracia Popular, com amplo Estado social e econômico. 

Bento XVI, em 03.05.2008, num discurso na Pontifícia Academia de Ciências Sociais, deixou claras as mesmas idéias centrais das ideias expostas neste blog. Destacou que a “doutrina social da Igreja” está sujeita ao “desenvolvimento” e “aprofundamento”, aplicando-se nos “campos da jurisprudência, da economia, da política” e em “várias outras ciências sociais”.

Este papa destacou as “inter-relações entre os quatro princípios fundamentais do ensinamento social católico: a dignidade da pessoa humana, o bem comum, a subsidiariedade (a exigência da participação de todos no poder) e a solidariedade (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, nn. 160-163)”, que apontam para a necessidade inadiável de “redução das desigualdades na distribuição dos bens, a ampliação das oportunidades para a educação, a promoção de um crescimento e desenvolvimento sustentáveis, e a salvaguarda do meio ambiente”.

O ponto principal é a “busca do bem comum”, que a “dignidade humana” seja respeitada em cada pessoa e também que floresça. A “dignidade humana” é “o valor intrínseco da pessoa, criada à imagem e semelhança de Deus”. O primado da pessoa também implica na exaltação do direito e do dever do Estado de assegurar condições de vida plena e abundantes para todos, educação plena etc. 

Pio XI, na “Divini Illius Magistri” (n. 40), ensinou: “é da competência própria do Estado” a “educação dos cidadãos, não só da juventude, mas também de todas as outras idades e condições sociais”. Esta “educação” “consiste” “em propor publicamente às pessoas” “realidades intelectuais, imaginativas e sensitivas, que movam as vontades para o bem moral”. A “educação” deve ser “tão ampla e multíplice” que envolva “toda a atividade do Estado em prol do bem comum”, cada ato estatal, para ampliar a energia e o poder de cada pessoa, fazendo florescer todas as potencialidades da natureza humana.

No discurso na “Academia de Ciências”, acima referido, Bento XVI definiu o bem comum como a “totalidade das condições sociais que permitem às pessoas alcançarem o seu cumprimento coletivo e individual”, sendo o conjunto destas condições conhecido “como o bem comum”.

A solidariedade é “a virtude” que nos manda “compartilhar integralmente” os “bens materiais e espirituais, enquanto a subsidiariedade é a coordenação das atividades da sociedade, de modo a contribuir para a vida interna das comunidades locais”. Assim, “podemos delinear as interconexões entre estes quatro princípios, inserindo a dignidade da pessoa na intersecção de dois eixos: um horizontal, em representação da “solidariedade” e da “subsidiariedade”, e um vertical que representa o “bem comum”, que é o principal eixo da ética cristã e racional.

Como Pio XI explicou, na “Studiorum Ducem” (29.06.1923, no centenário da canonização de Santo Tomás de Aquino), este santo explicou corretamente “os princípios [regras] da justiça legal e social, comutativa e distributiva, e as relações da própria justiça com a caridade”, deixando claro que estas duas virtudes (caridade e justiça) são regras racionais do bem comum, regras comuns à caridade e à justiça, onde a caridade vai além, sendo supra-justiça, ou seja, tem o mesmo campo de regras, mas a caridade exige um pouco mais. A caridade é a justiça elevada à potência, é a exigência do bem comum mesmo à custa do bem pessoal.

Esta “analogia gráfica” mostra a implicação dos princípios uns nos outros. Por isso, tendo em conta os dados sobre a Trindade, é possível concluir que “a responsabilidade dos cristãos de trabalhar pela paz e a justiça e o seu compromisso irrenunciável em vista de construir o bem comum são inseparáveis da sua missão de proclamar a vida eterna, à qual Deus chamou cada homem e mulher”.

A busca de uma boa convivência humana é chamada, por Santo Agostinho, de “concórdia entre os cidadãos”, de “paz”, sendo o mesmo ideal do cooperativismo, da democracia social, participativa e popular.

A tendência evolutiva da humanidade é baseada no fato das “cidades celestes e as cidades terrenas se compenetrarem de forma mútua”, pois “estão intrinsecamente ordenadas umas para as outras, uma vez que ambas pertencem a Deus Pai, que “está acima de tudo, age por meio de todos e se encontra em todos” (Ef 4, 6).

Bento XIV destacou a “autonomia das questões terrestres”, as causas segundas, pois a natureza e as pessoas são “dotadas de consistência, verdade, bondade, leis próprias e ordem” (cf. Gaudium et spes, 36). O papa destacou bem que “Jesus manda-nos fazer aos outros o que gostaríamos que nos fizessem a nós (cf. Lc 6, 31), amando o próximo como a nós mesmos (cf. Mt 22, 35). Estas leis foram inscritas pelo Criador na própria natureza do homem (cf. “Deus caritas est, 31). Jesus ensina que este amor nos interpela a entregar a nossa vida pelo bem do próximo (cf. Jo 15, 12-13)”, pelo bem comum. Assim, toda a ética, a espiritualidade e ascética são baseadas no princípio de por a “vida ao serviço do próximo (cf. Ef 6, 21)”, a “o ajudar nas suas necessidades (cf. Jo 13, 14-15)”. Isso deve ser feito racionalmente, usando a cabeça, buscando concretizar o ideal do bem comum.

O ideal cristão e humano, segundo Bento XIV, é baseado na “aspiração natural do homem a um autogoverno” social e racional, para organizar o convívio humano como uma fraternidade. A concepção política cristão é baseada no ideal do bem comum, de “viver como irmãos e irmãs aqui na face da terra”, em “comunhão [comunidade] de uns com os outros e com Deus no mundo que há-de vir” (já em processo, construção, como um grão, um parto….um embrião).

Cada um de nós deve procurar “delinear os melhores modos para os homens e as mulheres promoverem o bem comum”.