Cândido Mendes e a defesa de um socialismo democrático, para o Brasil

Cândido Antônio Mendes de Almeida escreveu o livro “Memento dos Vivos/A Esquerda Católica no Brasil” (“Tempo Brasileiro”, Rio, 1966).

A família de Cândido é composta de defensores da Igreja, grandes católicos, descendentes do grande Senador Cândido Mendes, de 1870.

Neste livro, Cândido defende a superação do colonialismo (capitalismo dependente) para termos, no Brasil, uma economia mista, com o melhor da difusão da micro e pequena propriedade pessoal, com estatais, nacionalismo, trabalhismo etc.

Cândido cita etapas importantes do pensamento católico, no Brasil, como o movimento de “Economia e Humanismo” do grande Padre Lebret (que elogiava o socialismo democrático e dizia que o catolicismo estava mais a esquerda que o socialismo democrático); a Democracia-Cristã com “suas pompas e suas ambições” (p. 42); o solidarismo, o que ele classifica como “primeira ruptura”, representada pela “opção” da Ação Popular (p. 50), a cisão havida no Centro Dom Vital (os erros grotescos de Corção) etc.

O solidarismo do padre Fernando Bastos de Ávila é praticamente um socialismo democrático, de economia mista etc.

Cândido ataca o integrismo e a direita. Defendia o MEB, que foi prestigiado pelo melhor da Igreja, para conscientizar os trabalhadores.

Cândido escrevia: “Ficando ainda na proposição tradicional, do princípio de subsidiariedade, [a Encíclica “Pacem in Terris”] não obstante já se ordena ao seu desdobramento enunciando-o com a profundidade e a largueza suficientes para a compreensão de um eventual papel dominante do Estado nas economias em desenvolvimento, ou, mesmo nelas, da aceitação de um socialismo necessário” (p. 122).

Lembro também que houve outros católicos trabalhistas e socialistas, como Domingos Velasco e o maior teórico do trabalhismo, do PTB, Alberto Pasqualini, que elogiava, como Alceu, o socialismo trabalhista dos países escandinavos e da Inglaterra.

Cândido defendia, já em 1966, que o “Terceiro Mundo” deveria adotar tudo o que há de bom no “socialismo necessário” (pp. 134-135).

Pasqualini era católico e era o maior teórico do Partido Trabalhista, que teve, depois San Thiago Dantas, outro grande católico. Pois, Pasqualini, San Thiago Dantas, ou Pontes de Miranda, defendiam um tipo de socialismo democrático com distributismo, com ampla intervenção estatal na economia.

Cândido era o secretário da Comissão Justiça e Paz da CNBB e queria que o Estado assumisse papel dominante na economia (ver o capítulo “estatismo necessário”, p. 148).

Cândido defendia, nesta obra, que “O centro da investigação, pois, do presente trabalho, se desloca para o exame da possibilidade de, na perspectiva atual da doutrina social da Igreja, se adotarem novos modelos de socialismo como técnica de desenvolvimento, para a realização do bem comum concreto nos países do Terceiro Mundo. Poderemos falar mesmo para tais países, em modelos de um “socialismo necessário“, desde que a expressão não implique os conteúdos ideológicos e doutrinários que as próprias encíclicas procuraram afastar” (pp. 134-135).

A mesma tese de Alceu Amoroso Lima e de Dom Hélder Câmara.