A Igreja defende um sistema misto, uma síntese, com ampla intervenção estatal, no fundo, uma forma de socialismo democrático distributista

Alceu de Amoroso Lima comentou dois trechos de uma alocução pontifícia de Pio XII.

O texto de Alceu foi publicado no “Diário”, de Belo Horizonte, em 20 de agosto de 1950:

Esse texto é a condenação formal do feudalismo e do patriarcalismo econômicos, tanto nos velhos países de indústria, como nos países cuja industrialização começa apenas a ser encarada, sem desconhecer a impossibilidade, por vezes, de ultrapassar esses estágios primários”.

“É uma resposta àqueles que argumentam, contra o humanismo econômico, que o Brasil ainda não está maduro para essas experiências. Que é preciso primeiro produzir e ganhar dinheiro. E mais tarde então cogitar de justiça social. O papa vem dizer exatamente o oposto.

Tanto nos velhos países industriais, como a Inglaterra ou a Alemanha, como nos países que agora se estão industrializando, como o Brasil ou a Argentina, a fase feudal e a fase patriarcal devem ser desde já superadas ou corrigidas, para se conseguir uma humanização da economia, que se traduz concretamente nessa — «evolução progressiva dos direitos do trabalho e correlativamente na subordinação do proprietário privado, que dispõe dos meios de produção, às obrigações jurídicas em favor do operário”.

Neste texto, Alceu reconhece a importância de Getúlio Vargas, que foi o

autor de uma legislação social que deu ao operário brasileiro, como disse Gustavo Corção, «a consciência de que já existe», quem estiver nessas condições, cai sob a condenação das palavras precisas de Pio XII. O feudalismo e o patriarcalismo não são soluções. São retrocesso ou rotina. O «bom patrão» é um conceito «ultrapassado». A «evolução progressiva dos direitos do trabalho» e as «obrigações jurídicas do proprietário em face do operário substituíram o feudalismo e o patriarcalismo econômicos».

De fato, Pio XII condenou o feudalismo e o patriarcalismo econômicos, na alocução proferida em 8 de junho de 1950, perante os membros do Congresso Internacional de Estudos Sociais, realizado em Roma pela Universidade de Friburgo.

Vejamos os dois textos de Pio XII. O primeiro diz:

“Bem atrasado se mostraria quem quer que, nos velhos países de indústria, pensasse que hoje, como há um século ou mesmo só meio século, se trate apenas de assegurar ao operário assalariado, solto dos liames feudais ou patriarcais (no texto original em francês :— “dégagé des liens féodaux ou patriarcaux”), além da liberdade de direito também a de fato. Semelhante concepção manifestaria completo desconhecimento do nó da situação atual. Há já dezenas de anos que na maior parte destes países, e muitas vezes sob a influência decisiva do movimento social católico, se formou uma política social caracterizada por uma evolução progressiva do direito de trabalho e, correlativamente, pela sujeição do proprietário privado, possuidor de meios de produção, a obrigações jurídicas em favor do operário.”

No outro texto, disse Pio XII: “Quanto aos países em que hoje se começa a encarar a industrialização, nós não podemos senão louvar os esforços das Autoridades Eclesiásticas para pouparem a populações que vivem até agora em regime patriarcal ou mesmo feudal, e sobretudo em aglomerados heterogêneos, a repetição das impertinentes omissões do liberalismo econômico do século passado”.