Igreja quer o MÁXIMO de SOCIALIZAÇÃO com o MÁXIMO de PERSONALIZAÇÃO, boa síntese

A concepção cristã sobre a política é baseada no direito natural à liberdade política, na criatividade de todas as pessoas, na RAZÃO, na EXPERIÊNCIA HISTÓRICA. 

A concepção política da Igreja não tem uma “receita fechada”, TEM APENAS FÓRMULAS, RECEITAS PRÁTICAS PROVADAS MEIO VAGAS, não prevê formas concretas detalhadas, que o próprio Deus destinou à luz da razão criadora, presente em todos, deixando isso para a sabedoria do povo, para a liberdade política de cada povo (“a César, o que é de César; e a Deus, o que é de Deus”).

Nas palavras de João XXIII, “a estrutura melhor” para a organização dos “poderes públicos” , E O MESMO VALE PARA A ESTRUTURA DA ECONOMIA, depende sempre das exigências (regras) racionais do bem comum.

Na concepção política há, isso sim, linhas (regras, FÓRMULAS) gerais, que são princípios, regras abstratas, com algumas mais concretas que configuram as exigências históricas do bem comum.

A Igreja detalha, aqui e ali, algumas das exigências históricas (vendo os “sinais do tempo”) embora estas concreções propostas não tenham o peso dos princípios e regras sociais e naturais mais gerais, obrigatórios e estáveis.

Paulo VI, na “Octogésima Adveniens” (1971), resumiu este ponto da seguinte forma: “o ensinamento social da Igreja” tem “dinamismo”, “acompanha” os seres humanos na história. Não se limita a “recordar princípios gerais”.

A doutrina social “desenvolve-se por meio da reflexão” racional “amadurecida no contato com situações dinâmicas deste mundo”, num fluxo de “renovação”, sempre em “serviço e atenção aos mais pobres”, sempre voltada à realização do bem comum ou geral.

Ao mesmo tempo apóia-se numa “rica experiência multissecular”, com “continuidade” em várias “preocupações permanentes” e, com estas bases, ousa adiantar-se em “inovações atrevidas e criativas que a situação presente do mundo exige”, para que o bem de todos seja promovido.

A concepção política e econômica do cristianismo é plástica, tem ductibilidade, não é detalhista. O mesmo ensinava Marx, que tentou ensinar um método para criar novas formas de produção, para CRITICAR O PRESENTE, buscando, no PRESENTE, o FUTURO, que já está em EMBRIÃO.

A doutrina da Igreja não peca por clericalismo, por omissão camuflada em “secularismo” (seria lavar as mãos como Pilatos).

A gestão do Estado é algo próprio dos leigos (cf. Bento XVI), de todas as pessoas.

O clero tem uma função mais geral de educação e de iluminação crítica (negativa e positiva, prospectiva), de linhas gerais, em respeito à liberdade política dos católicos e das pessoas, podendo E DEVENDO, no entanto, ser mais concreto, quando as necessidades sociais assim o exigirem.

Como explicou João Paulo II, na “Solicitudo” (n. 42), “não cabe aos pastores da Igreja intervir diretamente na construção política e na organização da vida social. Essa tarefa faz parte da vocação dos fiéis leigos, que agem por própria iniciativa com seus concidadãos…  Terá sempre em vista o bem comum”. Afinal, cabe aos leigos “animar as realidades temporais com um zelo cristão e comportar-se como artesãos da paz e da justiça” (SRS 42).

Como ensinava Dom Fernando Gomes dos Santos, Arcebispo de Goiânia, na REB (“Revista Eclesiástica Brasileira”, 09.1973), “cabe à Igreja opinar sobre política econômica”, ou seja, sobre todos os temas relevantes (frise-se, conexos às necessidades graves) que interessam à vida, ao bem comum.

O clero tem uma função profética, crítica e principalmente educadora (formação das consciências, ou seja, atuando como bons professores, ajudando o trabalho próprio CRIATIVO da consciência das pessoas). Os leigos têm ainda mais obrigações, pois todos devem participar do poder. Um bom professor nunca manipula, nunca domina. Age como UM PARTEIRO, na imagem de Sócrates, AJUDANDO os alunos a porem as mentes para funcionar, para eles mesmo criarem novas ideias, aumentando o ACERVO DA CULTURA HUMANA. 

O dever do clero é de iluminar, ajudar as consciências, urgir a todos a usar a cabeça, a usar a razão, a ajudar ao próximo, a atender às necessidades de todos.

O clero atua na formação, na educação da razão para a libertação, para a autonomia natural de pessoas chamadas a serem filhos de Deus e cidadãos (cf. Böckle, a teonomia e a autonomia são harmônicas e complementares).

Para usar as palavras do padre Leonel Franca, no final do livro “A Igreja, a reforma e a cilização” (Rio, Ed. Agir, 1952, p. 462), a Igreja (os leigos e o clero) deve atuar como “educadora”, “mãe” (“Mater et Magistra”, cf. João XXIII), como “impulsora do progresso intelectual, moral e religioso das nações, a amiga sempre sincera da humanidade”.

A ação do clero é baseada num autêntico laicismo e pluralismo, dado que cabe aos leigos a função de direção do Estado. O clericalismo, o anti-intelectualismo, a obediência cega, a omissão e o fundamentalismo são anti-cristãos.

Na Igreja há liberdade e pluralismo teológico, político, filosófico, artístico etc. Claro que existem sempre os limites postos e exigidos pelo bem comum, pelos direitos humanos. No fundo, iniciativa e liberdade, dentro dos limites do bem comum, o mesmo ara a economia.

Paulo VI, na “Octogesima adveniens” (n. 50) destacou, assim, corretamente, a “variedade possível de compromissos”, de “opções” no campo político e filosófico (tal como há variedade legítima nas linhas teológicas, há pluralismo mesmo na teologia).

A liberdade política, tal como a econômica, é limitada, como toda liberdade pessoal, pelas exigências do bem social, do bem geral.

Conclusão: a concepção política cristã é pluralista, dinâmica e baseada na liberdade política e intelectual das pessoas. A razão para isso é simples.

A doutrina da Igreja ensina que a consciência de cada pessoa é uma fonte criativa de idéias, que cada pessoa conta e é sagrada e única.

As idéias DE TODOS, a CRIATIVIDADE DE TODOS, são essenciais para que a sociedade possa ser ordenar pautada pelo bem comum, para que o convívio humano seja benéfico a todos.