Igreja defende socialismo com economia mista, algo parecido com o mercado socialista do Estado chinês, sem os grandes proprietários

Dom José Maria Pires, arcebispo da Paraíba, numa intervenção no XII Congresso Brasileiro de Comunicação Social, em Recife, em 15.11.1983, escreveu um texto sobre as “relações Igreja/Estado no Brasil pós-64” (publicado na revista “Vozes”, em dezembro de 1983):

Após 64, a Igreja evoluiu certamente da posição de colaboradora do Estado para a de instância crítica e, em muitas circunstâncias, passou da crítica à solidariedade concreta em favor dos oprimidos.

Acredito que ela possa voltar a ser colaboradora do Estado, mas sem deixar de ser instância crítica.

Na medida em que o próprio Estado deixar de ser o representante das oligarquias dominantes para se tornar o legítimo intérprete das aspirações populares o que significa: na medida em que o sistema capitalista, baseado na exploração do trabalho e na apropriação da mais valia, for substituído por um tipo de socialismo que respeite os direitos da pessoa humana, lance as bases de relações de trabalho que superem toda dominação e exploração e prepare o advento de uma sociedade sem opressores e sem oprimidos, nessa medida Igreja e Estado voltarão a caminhar juntos. Então o Estado não se oporá à Nação e representará legitimamente o povo, enquanto a Igreja será cada vez mais Povo de Deus em marcha” [para a renovação do universo].

Dom Tomás Balduíno, Dom Pedro Casaldáliga, Dom Hélder Câmara, Dom Fernando Gomes, Dom Luciano, Dom Paulo E. Arns, Dom Moacir Grecchi, Dom Waldyr Calheiros, Dom José Gomes, Dom Antônio Fragoso, Dom José Maria Pires e tantos outros têm as mesmas linhas básicas: é absolutamente necessário superar o capitalismo, o latifúndio e o imperialismo.

A Doutrina da Igreja converge para um sistema econômico misto, que tenha um amplo Estado social, muitas estatais, cooperativas de produção e de outros tipos, com milhões de micros, pequenas e médias empresas familiares.