Ladislau Dowbor mostra como o comércio externo é pequeno no Brasil. O importante é o comércio interno

Ladislau Dowbor, no livro “A era do capitalismo improdutivo”, p. 188, mostra que o fator principal é a “DEMANDA DAS FAMÍLIAS”, a economia familiar, é ampliar a renda dos trabalhadores, para termos uma economia sadia:

“A economia funciona movida por quatro motores: as exportações, a demanda das famílias, as iniciativas empresariais e as políticas públicas. No nosso caso, a partir de 2014, estes quatro motores ficaram travados, e o sistema financeiro desempenhou um papel essencial neste travamento. Entender este processo nos permite entender as principais engrenagens da própria economia.

“O comércio externo
No Brasil, as exportações não constituem nem de longe o principal motor da economia.

Os cerca de 200 bilhões de dólares de exportações, equivalentes a cerca 600 bilhões de reais, representam 10% do PIB.

“É significativo, em particular porque permite importar bens e serviços importantes para a economia, mas nada de decisivo. Não somos, de modo algum, uma economia como alguns países asiáticos, onde o motor do comércio externo é essencial. Com uma população de 204 milhões habitantes, e um PIB de 6 trilhões de reais, somos antes de tudo uma economia vinculada ao mercado interno. Se as dinâmicas internas não funcionam, o setor externo pouco poderá resolver”. (…)

A demanda interna
Incomparavelmente mais importante é a demanda das famílias, que constitui o principal motor da economia. Trata-se também de uma dinâmica que estimula atividades fins, o arroz e o feijão na nossa mesa. Quando a demanda interna murcha, as empresas não têm interesse em produzir. E quando a demanda está forte, haverá quem invista para responder e lucrar, dinamizando a economia.

Os dois governos Lula e o primeiro governo Dilma elevaram fortemente a base popular de consumo, com um conjunto de programas de distribuição de renda, elevação do salário mínimo, inclusão produtiva e outras medidas que permitiram tirar da pobreza dezenas de milhões de pessoas.

Isso gerou uma dinâmica de forte crescimento, o que por sua vez permitiu financiar as próprias políticas sociais. É o que se chamou de círculo virtuoso, em que um progresso alimentou outro.

“A partir de 2013, no entanto, o processo entrou em crise. A realidade é que os bancos e outros intermediários financeiros demoraram pouco para aprender a drenar o aumento da capacidade de compra do andar de baixo da economia, esterilizando em grande parte o processo redistributivo e a dinâmica de crescimento. Trata-se da esterilização dos recursos do país pelo sistema de intermediação financeira”.