O padre Jacques Roux, precursor do socialismo, da Democracia popular e da teologia da libertação.
Jean Jaurès, no livro “História Socialista de la Revolucion Francesa” (Editorial Poseidon, Buenos Aires, Argentina, 1946), elogiou o padre Jacques Roux como o líder dos enragés, dos enraivecidos. Roux combatia o açambarcamento, os juros, os ágios, a usura e atacavam os monopolizadores privados (trustes e cartéis da época), os agiotas (bancos privados) e outros exploradores. Jean Varlet foi outro líder, mas não tinha sequer 20 anos e por isso não é tão citado.
O padre Roux tinha 40 anos na fase mais turbulenta da Revolução Francesa.
Jaurès demonstrou que Roux era mais radical que Robespierre, Marat e Hébert.
Roux e François-Émile Babeuf tinham algumas posições semelhantes, defendendo, como Mably, uma boa economia mista. Vou postar textos de Babeuf e Mably sobre economia mista. Lembro que o próprio Marx, no “Manifesto”, defende, como regime de transição, uma economia mista. Lembro também que Lenin defendia a NEP, Nova Economia Política, economia mista, ideal bem exposto por Bukharin, que Stalin deveria ter mantido, pois isso permitir o florescimento da URSS como economia mista, coisa que Putin tenta realizar hoje.
Robespierre, Danton, Saint-Just e outros tinham fortes sentimentos e idéias religiosas. Na linha de Mably, Morelly, do padre Raynal, de Babeuf e de Buonarrotti, nenhum deles era ateu. Mesmo Diderot morreu como panteísta estóico, elogiando o grande Sêneca, como o maior exemplo de filósofo. Voltaire morreu reconciliado com a Igreja. Voltaire só foi maçon por poucos meses, antes de morrer, morrendo, no entanto, como católico, com os Sacramentos, Unção dos Enfermos etc.
O próprio Marat entrou em choque com os materialistas epicuristas do século XVIII e defendeu a imortalidade da alma em suas obras sobre medicina e fisiologia.
Da mesma forma, Marat defendeu os presos pobres, escreveu obras de criminologia e sobre reforma do Judiciário, com boa fundamentação jusnaturalista e cristã. A forma como Marat analisava os fatos mostra seu apreço pela ética e pelo povo. Ele errou ao defender medidas sanguinárias, mas sempre foi um jornalista popular, que defendia causas populares.
O padre Roux foi um dos líderes dos enragés, enraivecidos. Atacou duramente o monopólio econômico dos ricos (acúmulo privado dos bens), denunciando os agiotas etc. Defendia os camponeses, os pequenos produtores e os artesãos (no fundo, formas cooperativas), um grande Estado democrático popular, exigindo também limites e regulamentação estatal da produção (formas de planejamento).
O padre Jacques Roux escreveu “Discurso sobre os meios de salvar a França e a liberdade”. No clero, houve vários sacerdotes e bispos que participaram na revolução. Os leigos franceses eram, quase todos, católicos. Bonaparte, ao assinar a Concordata com o Papa, lá por 1804, apenas explicita a reconciliação da Igreja com as melhores ideias da Revolução Francesa, pois estas ideias de igualdade, fraternidade e liberdade eram ideias cristãs (cf. vários Papas, como Leão XIII, Pio XII, João XXIII, Paulo VI, João Paulo II reconheceram isso, em lindos discursos e textos da Igreja).
Entre o clero, basta pensar nos exemplos do Bispo de Blois, Dom Henri Grégoire (1750-1831) e do Bispo Talleyrand, podendo ainda serem citados os sacerdotes Sieyés e Fouché.
São exemplos de membros do clero na revolução. Há também o padre Pierre Dolivier, cura de Mauchamp. O clero teve, assim, participação na Revolução Francesa. O Bispo Dom Henri Grégoire defendeu a abolição dos escravos, a República, um Estado social, defendeu os judeus etc. Uma boa estrela da Igreja.
Houve também membros do alto clero, com indicações palacianas e entre famílias nobres, que ficaram ao lado dos aristocratas e são responsáveis pelos escândalos que afastaram muitas pessoas boas da Igreja, tal como são responsáveis alguns bispos que se omitem hoje e não defendem os pleitos populares.