Moses Hess, um Precursor judaico de Marx e Engels, com ampla religiosidade e fontes judaicas e cristãs em seu pensamento revolucionário

A concepção ética do cristianismo (e do judaísmo) foi a base ética de quase todo o movimento socialista. Lembro que a concepção ética do cristianismo é eclética e ecumênica, sendo uma síntese do melhor do judaísmo com o melhor do pensamento grego e Antigo (egípcio, fenício, sumério, babilônico etc) e isso foi visto por Bruno Bauer, Marx e Engels, como vou mostrar em outras postagens, e por Bebel, Liebknecht, Rosa de Luxemburgo, Lenin e outros. 

O pensamento ético é a ética cristã e natural (presente nas maiores religiões do mundo, como o judaísmo, o cristianismo, o hinduísmo, o islamismo, o budismo, o confucionismo, o taoísmo, a religiosidade negra e indígena etc).

Esta ética é apocalíptica, messiânica e utópica (busca melhorar o universo, o mundo, renovar o mundo, pois o Apocalipse não é o fim do mundo, e sim o surgimento de “novos Céus e nova terra”, sem injustiças, sem o mal, sem a degradação, num processo infinito de melhoria). 

A ética natural e cristã (e assim judaica e grega, pois o cristianismo é a síntese do melhor do judaísmo com o melhor do pensamento histórico mundial) inspirou quase todos os movimentos socialistas, especialmente Moses Hess, Weitling e Robert Owen (1771-1858).

Owen, na obra “O livro do novo mundo”, publicado em Manchester, em 1840, tentou esboçar uma organização social que fizesse, segundo Gian Bravo, “nascer a caridade e o amor universal, dando a sabedoria, bondade e felicidade, e assegurar a paz e o bem-estar entre os homens”, idéias claramente cristãs.

Moses Hess era messiânico.

Foi Moses Hess que converteu Engels e Marx ao socialismo.

Moses Hess, um grande judeu, um precursor do sionismo socialista (do trabalhismo judaico, que é a melhor corrente do judaísmo, frise-se), em seu livro “A história sagrada da humanidade por um discípulo de Spinoza”, de 1837, disse que a história marcha, pela influência do Espírito , para um “novo Éden”.

De fato, o Espírito Santo influi, por dentro das pessoas, e no Universo, como um fermento, uma semente, um Fogo, para a renovação do Universo, para a recriação do Éden, mas um Éden (Paraíso) renovado, melhor, um mundo sob o controle das pessoas, com pessoas imortais, com corpos espirituais indestrutíveis, que voem (vide, em São Tomás de Aquino, as características do corpo glorioso, dos corpos espirituais, ao modo dos Anjos rs). 

Segundo Auguste Cornu, no livro “Karx Marx et Friedrich Engels” (volume I, Presses Universitaires de France, Paris, 1955, p. 238), Hess, “adaptando, como os primeiros socialistas, suas concepções sociais às concepções religiosas, e dando a estas um conteúdo social, associava, em seu livro, o messianismo judaico com as filosofias de Spinoza e Hegel, e também com as doutrinas de Fourier e de Babeuf, para anunciar a vinda de uma sociedade futura sob a forma do reino de Deus. Transformando sua crença primeira no triunfo final da raça judaica em uma fé na vitória do povo oprimido, ele parte da idéia messiânica do reino de Deus que deve nascer do auge da opressão humana, atribuindo, sob a influência de seus estudos filosóficos, a criação deste reino ao desenvolvimento racional da história e apontando, destas tendências sociais, como finalidade deste desenvolvimento, a supressão da propriedade privada e o estabelecimento do comunismo”.

Friso que a supressão da propriedade privada é a supressão da propriedade quiritária, pois Hess queria a difusão do controle pessoal sobre os bens numa síntese com difusão dos bens, de destinação universal dos bens (comunhão), que é o ideal da Igreja.

O ideal da Igreja é um ideal de economia mista (o máximo de personalização com o máximo de socialização, controle dos trabalhadores sobre o fluxo e o processo produtivo, com difusão dos bens pequenos e médios, com amplo Estado social e econômico, estando este Estado amplo sob o controle do povo, um órgão controlado pela base organizado do povo. 

Hess associava Spinoza, Hegel, von Cieszkowski (um polonês católico que escreveu “Prolégomènes à la philosophie de l’histoire”), Babeuf, Fourier, Morelly, Morus e outros escritores e, por isso, levou Marx e Engels ao socialismo (na forma de comunismo, no fundo, uma corrente dos diversos tipos de socialismo históricos).

O próprio Marx usava a imagem de São Paulo, onde este diz que “toda a criação geme em dores de parto até hoje. E não só ela: nós mesmos, que possuímos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, à espera da redenção de nosso corpo” (Rom 8, 18-24).