O socialismo igualitário, humanista e participativo é uma expressão concreta da Doutrina Social da Igreja

O padre redentorista Marciano Vidal, um dos maiores especialistas em Teologia Moral da Igreja Católica, no livro “Dicionário de moral” (São Paulo, Editorial Perpétuo Socorro, pp. 614-615), mostrou, em poucas linhas, como um modelo de socialismo democrático concretiza os pontos de ética social do cristianismo:

Socialismo – Nesta expressão estão encerradas concepções do homem e da socie­dade bastante díspares. Quando o socialismo está unido à uma confi­guração social concreta, ligada à ideologia marxista e ao poder comu­nista, fala-se de socialismo real. A esta forma de viver e entender a realidade humana (…)  faze­mos sobre ele um discernimento moral negativo.

Quando o socialis­mo está unido a uma concepção hu­manista da existência, a avaliação tem de ser positiva. É o que neste Dicionário se denomina: socialis­mo igualitário e participativo, que constitui o núcleo decisivo dum válido modelo de sociedade.

Socialismo igualitário e participativo

O modelo de sociedade cons­truído pelos valores da justiça e da liberdade e promovido pelo exercício efetivo da igualdade e da participação social situa-se no horizonte utópico do humanismo socialista.

A opção por este huma­nismo socialista delimita o horizonte mais adequado para a formulação e a solução dos problemas morais da sociedade.

Analisamos os dois conceitos funda­mentais de humanismo socialista e de socialismo.

Optar com uma consciência cristã por um humanismo socialista eqüivale a aceitar os valores básicos da tradição humanista e cristã:

a) o valor do homem acima de qualquer outra realidade;

b) o reconhecimento da pessoa humana como lugar axiológico autônomo e original;

c) a defesa da liberdade como âmbito de autonomia do indivíduo e como limite aos poderes externos a ele, especialmente o Estado;

d) a luta pela justiça como configuração ética das instituições e das estruturas.

O humanismo socialista apresenta­-se como uma oportunidade inédita de autêntica democratização social. Em contraste com os socialismos totalitários, houve uma corrente de socialismo democrático, respeitador das exigências éticas dos direitos humanos.

O humanismo socialista, distanciado do capitalismo e do coletivismo, oferece um mode­lo econômico de sinal socializante.

Esta ética social atua em muitos cristãos, “atraídos pelas cor­rentes socialistas e pelas suas diversas soluções (QA, 331; Cf. QA, 116-120).

2. Esta opção pelo humanismo so­cialista leva-nos a analisar o con­teúdo do termo socialismo. Em pri­meiro lugar, não é lícito entender por socialismo toda a solução justa do problema econômico e do conjunto da vida humana. “Tal identificação constitui um abuso e dilui o concei­to de socialismo que, à força de querer abranger tudo, não diria absolutamente nada” (R. Alberdi, La realización de la fe en la vida social. Corintios XIII, n. 3 [1977] 160).

O ideal ético da democratização social e da economia socializada realiza-se pela mediação histórica do socialismo igualitário e participativo, um modelo de sociedade baseado na igualdade e na parti­cipação.

O socialismo igualitário e partici­pativo é a concretização da igual­dade e da participação. Estas, por sua vez, são as mediações so­ciais da justiça e da liberdade e, em última instância, as formas históricas da dignidade humana (Cf. QA, 22)”.

O texto acima serve como boa abonação para as afirmativas contidas neste meu blog.

Mably e Buchez, se estivessem vivos, aprovariam o texto de Marciano Vidal, pois faziam parte da corrente (na verdade, do grande rio subterrâneo que aparece muitíssimas vezes na superfície) do socialismo humanista cristão, o ramo do socialismo economia mista.

O texto acima encontra apoio nos Apóstolos (especialmente em São Lucas e em São Tiago), nos Santos Padres (São Basílio e Santo Ambrósio, especialmente), em São Tomás Morus e nos grandes socialistas pré-marxistas cristãos (quase todos fundamentavam suas idéias no cristianismo).

Todos os grandes socialistas pré-marxistas eram claramente inspirados na religião. Esta afirmativa é comprovada pela leitura das biografias dos padres vermelhos da Revolução Francesa (Morelly, Mably, Fauchet, Boneville, Jacques Roux, Leclerc e muitos outros), de Fourier, Saint-Simon, Owen (que era milenarista e morreu espiritualista, acreditando em Deus), Godwin (alguns de seus textos, onde fundamenta suas idéias no Evangelho, estão transcritos neste blog), Babeuf, Buonarotti, Karl Schapper, Weitling, Cabet, German Mäurer, Ausgust Becker, Victor Considérant (Alexander Herzen considerava-o como o melhor discípulo de Fourier), Godin, Buchez, Louis Blanc e dezenas de outros escritores e líderes proletários. Estes pontos serão demonstrados nos capítulos postagens seguintes deste meu blog.