Há dois Bentham. O primeiro, liberal. O segundo, reformista

Bentham deixou textos de liberalismo econômico no início da vida. Estes textos são os mais difundidos pelos ricos e usados pelos teóricos da utilidade marginal, da Escola Austríaca e da Escola de Chicago. Textos errados, individualistas, avessos à intervenção do Estado na sociedade e na economia. Textos de um epicurismo distorcido. 

Depois, de 1801, Bentham melhorou. Passou a admitir a intervenção estatal na economia. Deixou um bom texto mostrando que a diferença de prazer entre um pobre trabalhador e o sujeito mais rico da Inglaterra, 50 mil vez com mais renda, seria, no máximo, o dobro.

Neste texto, Bentham mostra que uma sociedade com distribuição igualitária de rendas e bens seria muito mais feliz e rentável, dado que a miséria e as grandes fortunas privadas destroem a personalidade humana. Alguns economistas da economia marginal usaram estes textos para defender reformas sociais de distribuição de rendas e bens, textos até corretos. 

Esta parte dos textos de Bentham está correta.

Bentham também defendia a Democracia e lutava pela humanização do direito penal.

Então, há uma parte dos textos de Bentham, mais do final da vida, que são o legado bom de Bentham, condizente com as ideias de Democracia Popular, igualdade social, economia mista, intervenção estatal, trabalhismo etc.

Esta parte tardia dos textos de Bentham foi mantida por John Stuart Mill, eclético, defensor da economia mista, feminista etc.