A Escola católica de Liège e os socialistas de cátedra. Democracia popular, Estado social e economia mista

As ideias de democracia popular participativa, intervenção estatal e organização dos trabalhadores estavam presentes na Escola de Liège, encabeçada por expoentes como Winterer, Albert Mun, padre Antoine (“Cours d´économie sociale”), Hitze (que continuava os trabalhos de Ketteler), do Cardeal Manning, Cardeal Gibbons e outros.

Estavam, em parte em forma embrionária, no “programa” do Partido Popular, que o Partido de Marx, ao fundir-se com o Partido de Lassale, adotou no “Programa de Gotha”, acolhendo, assim, idéias do socialismo cristão pré-marxista, especialmente ideias de Buchez, que influenciou Louis Blanc, Lassalle e Marx.

A Escola de Liège defendia a democracia (regime representativo), mas não a democracia liberal, e sim uma democracia social e participativa, com a intervenção do Estado na economia e e a organização dos trabalhadores em cooperativas e sindicatos, com o apoio do Estado.

A Escola (corrente) de Liège, a boa linha da doutrina social da Igreja, representava uma corrente democrática, intervencionista e pró-trabalhadores. Estas idéias foram chamadas de “democracia social” do Cardeal Mercier e tiveram o apoio de homens como César Cantu, Joaquim Nabuco, Rui Barbosa e outros grandes autores.

A Escola de Liège era parecida, em alguns pontos programáticos, com movimentos como: a escola intervencionista de Dupont-White (ver “O indívíduo e o Estado”, e “A centralização”); a Escola histórica de Gustav von Schmoller (1838-1917); os nacionalistas protecionistas ligados a List e principalmente a Henry Carey; o socialismo de cátedra; alguns radicais; os solidaristas; os possibilistas, vários socialistas democráticos (Victor Hugo), correntes nacionalistas e outras correntes de idéias.

A história da Escola de Liège foi descrita em obras como “O catolicismo social” (1945), de Henri Guitton. Esta corrente tomou este nome por causa dos congressos realizados na cidade de Liège, nos anos de 1886, 1887 e 1890.

A Escola de Liège teve o apoio de cardeais como Gibbons, Manning, Langenieux, Mermillod (1824-1892) e outros.

Parte da corrente da Escola de Liège gerou a Escola ou corrente da democracia cristã, cujo programa foi bem formulado por Toniolo e, depois, por Pesch, tal como pelo padre Luigi Sturzo. Mais tarde, na mesma linha, houve o “movimento economia e humanismo”, ligado ao padre Lebret.

O Concílio Vaticano II ratificou esta linha anticapitalista, anti-latifundiária, anti-oligarquia e antiimperialista, como a linha oficial da Igreja.

Tocqueville, um grande católico democrático, no livro “Da democracia na América” (1839), mostrou a relação intrínseca entre a igualdade de condições e as associações:

“Nos povos democráticos são as associações que devem ocupar o lugar dos particulares poderosos que a igualdade de condições fez desaparecer”

[ele elogiava] “a habilidade infinita com que os habitantes do país conseguem fixar um objetivo ligado aos esforços de grande número de homens e fazer com que marchem livremente nessa direção”.

“… nos países democráticos, a ciência da associação é a ciência-mãe; o progresso de todas as outras depende do progresso desta”, da “arte da associação”, [que deve ser] “desenvolver e se aperfeiçoar à medida que aumenta a igualdade das condições”, [pois esta igualdade era, para Tocqueville, o grande sol, a grande finalidade da sociedade].

Conclusão: pelos textos de homens como Suárez, Montesquieu, Mably, o bispo Gregório, os bispos católicos do Círculo Social, os padres vermelhos da Revolução Francesa, Tocqueville, Acton, Ozanam, Buchez, Ketteler e outros, fica claro que a doutrina da Igreja aponta, como ideal histórico, as linhas de uma boa democracia participativa, social e popular.