Os bispos e leigos católicos, nos EUA, lutam por Estado social, democracia popular e economia mista

Nos EUA, os bispos e leigos católicos defendem a paz, o Estado social, a democracia popular, economia mista, o fim do imperialismo e das guerras, são críticos às idéias neoliberais e belicistas.

Os leigos católicos (cerca de 26% da população daquele país, quase 80 milhões) militam hegemonicamente no Partido Democrático, só não tendo criado um partido mais a esquerda por causa do sistema majoritário de votos, que cerceia a participação política do povo.

Em 1965, os católicos já eram o grupo religioso com maior representação no Congresso dos EUA e o mesmo ocorre hoje (há centenas de parlamentares federais e estaduais católicos). Em 1965, dos 14 senadores católicos, nada menos que doze senadores militavam no Partido Democrático (quase noventa por cento da bancada católica no Senado dos EUA). Dos 93 Deputados católicos, 80 militavam no Partido Democrático (mais de 80% da bancada católica na Câmara dos Deputados). Vou fazer o levantamento da situação de hoje, que não é muito diferente.

Em geral, católicos votam no Partido Democrático, o partido dos católicos, dos negros e dos judeus. 

O sistema majoritário não prestigia os votos minoritários e, por isso, prejudica a democracia.

O sistema majoritário (o sonho horrendo do PFL-DEMO) existe nos EUA, na Inglaterra, na França e em outros países. Na Alemanha há o sistema misto. Na própria Inglaterra, há um movimento em prol do sistema proporcional. Na França, o sistema majoritário foi instaurado para bloquear o avanço da esquerda no Parlamento.

Os pilares (as linhas gerais) da doutrina social da Igreja, resumidos pela “Conferência dos Bispos católicos dos EUA” (constam no site da Conferência dos Bispos dos EUA), têm a mesma linha de democracia popular, participativa e social.

O ponto mais importante (o coração da doutrina) é que “a vida humana é sagrada”, “a dignidade da pessoa humana é o fundamento” (“foundation”, fundações, bases) “da visão moral da sociedade”, especialmente com ênfase nos oprimidos, onde a vida está mais ameaçada. Trata-se do “fundamento de todos os princípios de nosso ensinamento social”, pois “cada pessoa é preciosa” [importante, essencial, tem algo único para a sociedade, para todos] e “a medida [de legitimidade] de toda instituição é o tanto que ela prejudica ou ajuda na vida e na dignidade da pessoa humana”.

As “pessoas são sagradas” e “sociais”, por isso organizam-se na esfera econômica e política. O “povo tem o direito e o dever de participar na sociedade, para a promoção do bem comum e do bem estar de todos, especialmente dos pobres e das pessoas vulneráveis [hipossuficientes]” (em inglês: “We believe people have a right and a duty to participate in society, seeking together the common good and well-being of all, especially the poor and vulnerable”).

O segundo pilar decorre do primeiro: a “tradição católica ensina que a dignidade humana deve ser protegida”. A comunidade deve proteger, reconhecer e promover os direitos humanos naturais: “cada pessoa tem um direito fundamental à vida e o direito aos bens requeridos para uma vida humana decente”.

Em terceiro lugar, há a “opção pelos mais pobres e mais vulneráveis”. A sociedade deve prover os bens para todos (cf. Mt 25,31-46) e, para isso, “deve por as necessidades dos pobres e dos vulneráveis [doentes, analfabetos, idosos, crianças etc] em primeiro lugar”.

O quarto pilar é a “dignidade do trabalho e os direitos dos trabalhadores”. A “economia deve servir ao povo” (“the economy must serve people”). O trabalho é “a forma de continuar e de participar na criação de Deus”. Os “direitos dos trabalhadores” devem ser respeitados.

O quinto pilar é a “solidariedade”, a sociedade deve estruturar-se em relações de cooperação e paz, no país e nas relações internacionais.

O sexto ponto é o cuidado com a criação de Deus, ou seja, com o meio ambiente.

As linhas de uma democracia popular, social, econômica e participativa constam também claramente no documento “O ensino social da Igreja e a economia dos EUA”, uma “Carta pastoral” dos bispos estadunidenses, em 1986, inclusive no ponto da opção preferencial pelos pobres, “ver as coisas a partir dos pobres”, dos oprimidos. O documento “O desafio da paz”, destes bispos, de 1983, também critica o complexo militar-empresarial.

Conclusão: os bispos católicos, nos EUA, também sonham reconstituir um “New Deal” atualizado, transformando a democracia liberal numa democracia social, participativa e popular. Os melhores textos do finado Senador Robert Kennedy tinham este ideal, ainda que de forma aguada e este Senador foi assassinado, em 1968 (nos moldes dos assassinatos de Luther King e de Malcolm X) por estas idéias.